“Não é a distância que mede o afastamento.”
Antoine de Saint-Exupéry
Como sou uma pessoa que pensa demasiado nas coisas (um dos grandes motivos pelos quais a criatura anda sempre a ouvir música, para aliviar os pensamentos), dei por mim a pensar numa caraterística da minha pessoa que irrita muito outras tantas e que fico às vezes com pena de ter, mas que por agora só com grande esforço consigo contrariar.
Como não sabia o que chamar a
esta coisa, fui pesquisar…Comecei por pesquisar por “desapego emocional”, mas percebi
que não é bem isso, o desapego emocional é já um nível ou dois acima do mal de que
eu sofro.
Bem, na verdade, o desapego emocional pode ser utilizado de forma saudável, quando nos permite “desvincular de vínculos, expectativas ou sentimentos que já não servem ao seu bem-estar. Diferente de “não se importar”, o desapego emocional saudável permite manter relações e compromissos de forma leve, sem se deixar dominar por emoções destrutivas, como ansiedade, culpa ou medo.” (portanto, não é isto…). E quando ultrapassa este nível de salubridade, pode transformar-se em “indiferença – uma desconexão que nos impede de sentir empatia ou de criar vínculos significativos.” (também não chega aqui). (www.saudelab.com)
Depois pesquisei sobre desconexão…Mas
a desconexão também é algo de muito pesado em relação àquilo que sinto que me
acontece. A desconexão emocional é “A
desconexão emocional é um tipo específico de desconexão onde o indivíduo tem
dificuldade em acessar ou expressar suas próprias emoções. Isso pode resultar
em uma sensação de apatia ou indiferença, mesmo em situações que normalmente
evocariam uma resposta emocional significativa. Pessoas que experimentam
desconexão emocional podem ter dificuldade em reconhecer e nomear suas próprias
emoções, o que pode levar a problemas de comunicação e relacionamentos
interpessoais. Esse tipo de desconexão é frequentemente observado em pessoas
que sofreram traumas ou abusos, e pode ser uma resposta de autoproteção para
evitar a dor emocional.” (www.joicematos.com).
Pronto, fiquei a saber que também
não é desconexão emocional, fiquei também a saber que não sei que nome hei de
dar a isto…Mas pronto, vou explicar, porque sim, porque me apetece falar sobre isto
e pronto, cá vai.
Portanto, o que me acontece é
que, volta e meia, por mais que goste da pessoa e que sinta que não me farto e
que adore falar e estar com a pessoa e que seja muito importante para mim, se
não estiver fisicamente com ela, acabo por me afastar de todo. Tipo, não mando
mensagem, não me lembro, não consigo sentir saudade, consigo estar bem sem
saber da pessoa, até que chega um dia e me lembro “Ah, não falo com ela há algum
tempo”, vou ver e às vezes já se passaram meses ou até anos.
Não tenho explicação científica
para a coisa, mas se calhar isto até é mesmo da idade...Uma pessoa com o passar
dos anos não perde só altura e ganha pelos estranhos em sítios onde não é
suposto, também acontecem outras coisas estranhas neste corpicho lindo que nos
deram e na cabeça então, nem se fala. Por dentro e por fora. Por fora já se
sabe que uma pessoa passa de humanos a uvas passas aí por volta dos 70 anos ou
um bocadinho antes se deres má vida ao teu euzinho (ou boa, depende da
perspetiva). Mas na mente e na consciência (ou inconsciência) de nós próprios,
de forma voluntária ou não, vamos mudando.
Sempre defendi aquela máxima de
que o núcleo da pessoa nunca muda (a não ser que a pessoa tenha passado por
algum evento super marcante ou uma mudança radical de vida e depende da idade
em que isso acontece), mas o resto, os acessórios, vão mudando mais ou menos e
vão influenciando mais ou menos o nosso núcleo, fazendo-o sobressair mais ou
menos, fazendo evoluir positiva ou negativamente conforme o caso.
No meu caso penso que esta
questão do afastamento, ou desprendimento temporário, como queiram chamar
parece-me a mim que poderá ser um mecanismo de defesa porque (como tantas
outras pessoas) já tive que "abandonar" pessoas algumas vezes por
vários motivos e essa merda mói um bocadito, o espírito e a mente, e demora a
passar, pelo que é melhor fazer assim um desvio. É que quando temos que nos
afastar de pessoas ou quando pessoas se têm que afastar de nós, sobretudo
quando a coisa é forçada, fica a saudade e a nostalgia, que são sentimentos que
até gosto de ter, como já disse em Tentativas anteriores, mas é q.b., que essas
malandras aleijam.
Se calhar é por causa do meu dia-a-dia,
de cabeça enchida e vontade extrema de dormir (sendo este último sempre o meu
objetivo final do dia durante o dia todo assim que acordo) que bloqueia o resto
e os dias acabam por passar e eu sem passar cavaco àqueles de quem gosto...Quem
sabe é isto e mais coisas baralhadas neste cérebro magnífico que possuo... Não
sei...
Poderá ser a minha bateria social
que está viciada e há momentos em que tão rápido quero muito estar com as
pessoas, como digo "ah, pronto, já
chega, está na hora de ir para o meu cantinho, de preferência em casa ou numa
ilha paradisíaca" (só tem sido em casa, mas nunca é tarde...).
O que sei é que esta questão traz
consigo aspetos muito negativos, nomeadamente, pensarem que me estou bem a
borrifar para as pessoas.
Tipo eu estou lá se precisarem de
mim, é só chamar que no que puder ajudar eu vou, ou mesmo para um café, mas,
principalmente para quem não me conhece pode pensar que sou daquelas que só faz
conversa de circunstância e depois não quer saber e já nem se lembra da pessoa.
Quem me conhece sabe que não é
assim, que é uma caraterística parva minha, que eu gostava de não ter porque,
embora com a maior parte das pessoas de quem gosto mesmo, por mais tempo que
passe sem falarmos, quando voltamos a falar é como se nos tivéssemos visto
ontem. Com esta coisa toda acabei por perder contacto com muita gente, por
exemplo, com pessoal do básico/secundário não tenho já qualquer contacto, da
faculdade fiquei com um contacto permanente e pronto, é isto. Amigos não tenho
muitos à pala desta minha coisinha, mas sei que os que tenho estão aí para mim
e eu para eles quando é preciso (e às vezes quando não é também). Se calhar
afinal até é bom, é um filtro natural que aqui a bonita tem.
Eu antes de ser assim tinha o mal
oposto, na verdade. Apegava-me muito às pessoas, e muitas vezes não era
correspondido, era de mim que se afastavam. Portanto, é com grande
probabilidade que seja este o grande motivo pelo qual acabo por ser eu a fazer
isso agora. Faço isto de forma não consciente, ou pelo menos não totalmente de
forma consciente, para não fazer dói-dói de novo. É que, como devem saber, uma
pessoa quando gosta muito de algo ou alguém e perde esse algo ou alguém fica
aleijadinho na cabeça e no heart, e
ninguém gosta muito disso (quer dizer, há quem goste, mas isso já é conversa
para outro episódio).
Para aqueles a quem já fiz, ou
faço isso, peço desculpa, não é por não gostar de vocês, é mesmo o chip que
está avariado. Estou aqui para vocês, podem e devem mandar mensagem (ligar só
em caso urgente, porque a moça aqui para telefonemas custa-lhe um pouco),
podemos falar até mais não e combinar um cafezinho ou outro. Mesmo. Gosto muito
de vocês, não se chateiem comigo por ter problemas na cabeça, podemos partilhar
os problemas um dos outros, não que vá solucionar, mas ao menos pensamos “olha,
não sou a única a bater mal”.
A ver se continuando o estudo e a
escrita esta minha caraterística social se altera e evolui para melhor e
encontro aqui um equilíbrio entre ser a abandonadora e a abandonada, nem que
tenha que começar a pôr lembretes no telemóvel tipo “deixa de ser antissocial,
manda mensagem aos amiguinhos para não pensarem que te passaste de vez ou que
fugiste para outro continente”. Pronto, vou tentar, mais um desafio, mais um
esforço a ver se melhoro.
Até lá deixo já aqui um beijinho
e pronto, espero que vos tenha agradado esta Tentativa, depois de três semanas
de abandono (veem? É mais forte do que eu, mas já voltei, estou aqui ainda).
Da Vossa Criatura-Mais-Velha!