“A raiva reside apenas no peito dos tolos.” — Albert Einstein
É verdade. Descobri que afinal não só de medo e tristeza se faz esta bela
Criatura-Mais-Velha.
Estive, e estou, a pensar e a repensar no que se passa aqui dentro há
tanto tempo que já nem sei dizer quando começou, e que estou em pulgas para
saber como o fazer acabar ou pelo menos para saber como o acalmar ou controlar.
E de tanto pensar, acho que pelo menos já cheguei a uma conclusão: outra
emoção que sinto constantemente é a raiva.
Mas raiva numa das suas vertentes mais giras, que é a frustração.
Pronto, aqui chegada, perguntei-me a mim própria, mas porquê frustração?
Então não era medo, ansiedade e tristeza que estavam para aqui a chatear? Agora
queres mais uma amiga, é?
A resposta a que cheguei é a seguinte: pelos vistos, foi sempre a
frustração que te levou até às outras “amigas” e não ao contrário!
É verdade! É a frustração, aliás, são as frustrações constantes desta
vida (tenham ou não fundamento válido) que me têm levado neste mundo de
incertezas, medos, ansiedade, depressão…Enfim, neste País das Maravilhas de
problemas mentais latentes e não diagnosticados…
(E agora os pais da Criatura-Mais-Velha que até gostam de ler estes
desesperos, mas que desesperam ao pensar que a filha fofa está em apuros, armem-se
em fortes, porque vão aqui umas coisitas mais “sensíveis”, mas não se esqueçam
que isto é uma zona segura e que é só para desabafar e curar coisas que nem
sabia que estavam por curar. Amo-vos muito, de coração, sei que fizeram e fazem
o melhor que sabem e que podem (e o que não podem, mas fazem por poder), e que sou
uma privilegiada pela infância que tive e pela família maravilhosa que tenho, (a
que vocês me deram e que estou eu agora a formar!). Obrigada por tudo!)
Portanto, voltando à vaca fria. Pelo que estou a perceber, agora que me
debruço mais seriamente sobre estes assuntos, é que as minhas frustrações
remontam a tempos antigos, quando ainda vivia num paraíso tropical, em que
sorria para estranhos (lembram-se? Eu era aquela criança que sorria para
estranhos e tal?).
As primeiras frustrações começaram a dar o ar da sua graça em criança,
quando queria todos os hobbies e mais
algum, mas não me foi autorizada a realização de nenhum deles (somente agora me
dou conta disso! Incrível, como há cérebros que demoram tanto a funcionar, mas
pronto, é equipamento dos anos 80, têm de dar um desconto) – mãe, pai, mais uma
vez, respirem fundo, está tudo bem, é só mesmo conclusões a que cheguei, eu
agora compreendo mais do que nunca estes “nãos” a atividades extracurriculares
de crianças, acreditem!
Quis natação: não, porque tinha as costas largas (e tenho). Quis ballet:
não, porque era (e sou) gorduchinha e não dá (também não é mentira). Quis
karaté: não, que é para rapazes (verdade categórica na Venezuela dos anos 90).
Quis guitarra: não havia meios para. Quis vólei: idem…
Parece meio triste e dramático, mas não é, nem uma coisa, nem outra.
Aconteceu. E sou uma pessoa feliz e (relativamente) saudável apesar disso, e
está tudo bem. Só estou a descobrir o que faz de mim o que sou hoje em dia e
como posso mudar o que me incomoda.
Pronto, isto dito, o que aconteceu a seguir? Ao longo da minha vida, que
já vai em três décadas e meia, continuei a querer ter hobbies e fazer coisas que me apaixonavam e dos quais tirava gosto
em fazer mesmo dando trabalho. Mas conseguia sozinha e sem qualquer tipo de
ajuda “proibir-me” à realização desses hobbies
e dessas coisas apaixonantes. Os que tive, que tive alguns como desenho, danças
de salão, caminhadas, andar de bicicleta, dentre outros tantos, consegui
deixá-los, abandonados por aí. Por vezes, a justificação da proibição ou do
abandono das coisas que queria fazer, eram justificadas com motivos de caráter
monetário, outras vezes em motivos sem motivo, outras simplesmente porque é
mais fácil dizer que não. Resumidamente, descobri que pratico o hobby de autossabotagem,
de desistir.
Isto reflete-se hoje em dia numa frustração diária, da qual sou eu a
responsável mor…Fui eu que criei estas auto-proibições, estas desistências incessantes,
e uma corrida atrás de algo que nunca sei bem o que é. Isto já em adulta, até
ao nível pessoal e profissional, e não só nos hobbies e coisas giras. Ou porque pensei demais e acabei por ser
demasiado racional nas decisões (por razões económicas, por responsabilidades
reais ou imaginárias, por medos – também estes reais ou imaginários) e acabei
por escolher coisas que não queria na verdade, ou porque às vezes, mesmo
gostando muito ou querendo muito fazer uma coisa, torna-se mais fácil não a
fazer. Torna-se mais fácil dizer-nos que não a nós próprios, e inventar outras
prioridades que não são nossas, mas de outros, da própria sociedade…
Certo é que percebo agora que estas frustrações dentro de mim (sentir que
não estou a fazer o que gosto em termos profissionais, em achar que já devia
ter feito isto e o outro, pensar que se tivesse seguido outra via ou se tivesse
tomado outras decisões estaria certamente melhor) são o motivo de estar
constantemente mal-humorada, contrariada, rabugenta…Não é a ansiedade, não é a
tristeza, não é o medo, é a raiva, nos seus trajes de frustração (cujo
significado, para tornar a coisa mais científica, é: “uma sensação de incapacidade diante de desgostos sofridos, diante de
obstáculos difíceis de ultrapassar e que impedem chegar onde se deseja. A
frustração ocorre quando identificamos um erro entre aquilo que planejamos
alcançar e o que realmente aconteceu”).
A boa notícia é que estou a tentar proibir-me cada vez menos de fazer
coisas que quero fazer e que gosto de fazer (exemplo disso é estarem neste
momento a ler a minha Tentativa #4).
Solução encontrada: ainda nenhuma (quem diria!), mas suspeito que a
solução passe por aceitar que o que passou, passou, e que o que passou faz de
mim o que sou hoje em dia. E, em simultâneo saber e lembrar-me todos os dias que
ainda estou viva, que estou a envelhecer, mas que isso me está a tornar mais
sábia (ou menos ignorante, pelo menos) e que nunca é tarde. Enquanto estivermos
vivos, ainda é a nossa vez!
Da vossa Criatura-Mais-Velha!