Tentativa #7 – Relações e Aprendizagens.
Disclaimer: Esta Tentativa é provavelmente a coisa mais pirosa e
com mais letras que vão ler hoje.
“A coisa mais difícil de aprender na vida, é qual ponte precisamos atravessar, e qual devemos queimar.”
Abraham Lincoln
Bem, isto estava difícil de sair. Não por falta de ter coisas para dizer ou do que me queixar, que disso tenho de sobra, mas porque estava difícil de arranjar um tempinho para me sentar aqui a falar convosco. Portanto, quem tiver dicas de organização e de deixar o cansaço de lado para fazer as coisas, por favor partilhe, que isto já é uma questão grave e que leva ao desespero! Agradecida.
Mas pronto, cá estou eu, sentadinha, pronta para partilhar mais um pouco da minha vida (talvez demais…sorry) à espera que possa ajudar alguém a saber que não está sozinha nesta vida louca e, quem sabe, fazendo com que esse alguém (ou alguens) venha partilhar um bocadinho dos seus desesperos comigo.
Hoje venho falar de relações. Aquelas que por um motivo ou outro acabaram por acabar e aquela que fica ou que esperamos nós que fique para sempre. No caso, e porque não tenho tempo nem teclado que aguente com tanta história que teria para deixar aqui, refiro-me apenas a relações amorosas.
Começar por dizer que, como dizia a minha avó (uma das minhas pessoas favoritas deste Universo): “O casamento é como uma lotaria”. E é mesmo. No casamento (ou relações, sem ser casamento): ou perdemos; ou ganhamos; ou ficamos na mesma (ou seja, não evoluímos).
No meu caso, mesmo que com 35 anos de vida em cima das costas, somente tenho quatro relações sérias e que me marcaram, e que considero como sendo as relações que fizeram de mim o que sou hoje, para o bom e para o mau, com mais ou menos traumas e com mais ou menos momentos de felicidade e de amor verdadeiro.
A primeira de todas remonta aos meus 10 aninhos. Sim, a Criatura-Mais-Velha já foi uma criança, para o espanto de todos!. E sim, na Venezuela começa-se cedo esta vida de drama e romance (espero não chocar sensibilidades).
Então, quando eu tinha 10 anos apaixonei-me pelo rapaz que todas as raparigas queriam como namorado (mesmo sendo mais velhas que ele). Era um miúdo giro, com ginga, simpático, atencioso, não morava na mesma urbanização que eu (o que lhe dava mistério e não fazia enjoar) e sabia dançar (o que na Venezuela é uma condição indispensável para que alguém seja considerado um bom partido). Eu era uma Maria-Rapaz (não mais porque a minha mãe não deixava…), trapalhona, tímida, rechonchuda, com a autoestima em baixo, a palhacinha do grupo que toda a gente queria como amiga e confidente, mas que ninguém queria como namorada.
Até que aquele rapazinho que todas queriam conquistar olhou para mim. Não sei bem ainda explicar porquê, visto que ele tinha MESMO muita escolha lá no grupo, miúdas muito mais bonitas, magrinhas, cheirosas, engraçadas…Olhou para mim e eu já tinha há muito olhado para ele, e pronto, acabou por acontecer, começamos a “namorar”. Fartávamos-mos de andar de mãos dadas, de rir, de dançar, de falar e de ouvir músicas juntos (muitas das melhores bandas que ainda hoje em dia oiço foram ele que mas mostrou – Gorillaz, Limp Bizkit, Linkin Park…até então só ouvia Shakira, Christina Aguilera, Britney e pouco mais).
Mas, passados uns meses tive que vir para Portugal, mas o rapazinho, com esperanças que eu voltasse rápido (as mesmas esperanças que eu tinha), não deixou de me ligar durante vários meses e falávamos e fazíamos planos para quando eu voltasse ou para quando ele me viesse visitar. Nada disto aconteceu e nos demos conta que tudo não passava de um sonho e os telefonemas acabaram por parar, para ele poder ir à vida dele e eu à minha, para que uma ilusão e esperança vã de dois miúdos não esmagassem os sonhos que podíamos realmente vir a alcançar.
Bem, desta relação bonita e juvenil retirei (ou retiro agora que analiso a coisa com uma BOAAA distância) que nunca sabemos o que vai na cabeça e no coração das pessoas, mas temos a mania de tentar adivinhar, e muitas vezes essa necessidade de acharmos que temos poderes adivinhatórios acaba por nos fazer perder muitas oportunidades. Outra coisa que aprendi com este rapazinho é que temos que conseguir ouvir as nossas emoções, não ir à toa, mas também não deixar que os outros nos levem a fazer coisas à-toa. Se gostas, vai em frente, não gostes só do que dizem que tens de gostar, nem do que achas que devias gostar.
A segunda relação que me ensinou muito foi a minha relação mais duradoura até hoje. Durou 14 anos e deu-me muita coisa. Boas e más (as boas sendo muito boas e as más tendo-me ajudado a perceber muita coisa sobre mim e sobre os outros).
Nesta relação eramos nós dois gaiatos sem saber nada da vida, eu com 16 e ele com 18. Conhecemo-nos graças a uns amigos. Ele pediu-me o número de telemóvel, eu na minha inocência e porque nunca pensei que um “rapaz de Lisboa” (que afinal era de Corroios…conhecimentos geográficos aqui da linda) e ainda por cima giro, quisesse alguma coisa comigo. Eu, continuando a ser Maria-Rapaz (não mais porque a minha mãe não deixava…), com corte à cogumelo, com borbulhas, roupa de tudo menos da moda, e pronto, com este sentido de humor idiota de que já vos falei.
Mas pronto, pelos vistos, esse rapazito também não queria saber de clichés e das meninas bonitinhas de revista, e lá ficamos juntos “só” 14 aninhos. Esses 14 aninhos tiveram altos e baixos, como todas as relações até com menos tempo.
Nós acabamos por nos tornar adultos juntos, eramos os melhores amigos um do outro (pelo menos, para mim, ele era o meu melhor amigo), estudamos juntos (cada um no seu curso), viajamos, rimos, choramos, vimos carradas de filmes, séries e anime, cozinhamos muitos pratos diferentes, bons e maus (os maus foram mais meus, uma vez tivemos que encomendar hambúrgueres de uma marca conhecida cujo nome não posso dizer porque ainda não recebo para fazer publicidade), fizemos noitadas com amigos e sem amigos, jogamos, construímos um lar, tivemos uma filha fabulosa! Tivemos uma vida juntos cheia.
Mas…Agora olhando à distância (e no meu ponto de vista, claro), por motivos que acho normais e espectáveis, a relação começou a desgastar-se e a comunicação a falhar. Os gostos e ritmos de fazer as coisas e de ver as coisas a acontecer mudou, deixamos de ser gaiatos e ficamos adultos com ideias diferentes do mundo, e o romance foi-se desvanecendo. Uma coisa levou à outra e esta relação também acabou por acabar.
Custou muito que acabasse, porque foram muitos anos, muita partilha, não havia praticamente nada que não soubéssemos um do outro e que fizéssemos um sem o outro. Quando acabou passei por todas as fases que se veem nas comédias românticas: choro compulsivo, querer fugir e deixar tudo para trás, pintar e cortar o cabelo, procurar a companhia de amigos e familiares todos os fins de semana, não saber estar sozinha, fazer uma tatuagem (sim, a minha primeira tatuagem aos 30, uma vergonha!), enfim, uma vida louca.
Depois a vida começou a voltar ao normal. E aprendi com esta relação que nos podemos refazer, que podemos manter a amizade mesmo que haja momentos maus e que nos magoem e que magoemos (graças a Deus ainda somos amigos e quando um precisa o outro está lá para ajudar, e já ambos estamos super bem acompanhados, cada um com o seu mais-que-tudo), que não podemos confundir hábito, apego e amizade com amor e paixão, que somos bem mais fortes do que achamos que somos e que sabemos quem são os nossos verdadeiros amigos nestes momentos maus e conseguimos logo, logo, perceber quais as pontes que precisamos de queimar também nestes momentos maus. É uma espécie de momento de revelação (claro, quando todo o nevoeiro e drama inicial vão desaparecendo).
Depois da relação mais longa veio a mais curta, por razões muito óbvias (pelo menos para mim e peço já desculpas pelo desabafo). Foi uma relação que foi resultado basicamente da baixa-autoestima, de achar que não sabia e não gostava de estar sozinha e que mais ninguém me ia querer já aos meus 30, com uma filha e com uma relação anterior tão longa. Esta relação foi com uma pessoa com quem eu não partilhava os mesmos valores, interesses, forma de pensar e de lidar com os outros, que (acho eu) não se sentia bem com ele próprio e por isso era ambíguo na forma de tratar quem estava com ele no dia-a-dia e quem estava com ele só nos convívios e nas partes boas. Senti que só eu é que vi o verdadeiro “eu” dessa pessoa e não me identifiquei com o que vi, mas, para ele sinceramente desejo-lhe paz de espírito e que encontre alguém que o ame incondicionalmente.
Mas como tudo o que nos acontece de mau traz também partes boas (sendo, aliás, essa uma das aprendizagens nas relações, pelo menos para mim, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais), desta relação retirei que me sei defender sozinha, que é necessário pensar bem antes de agir (mesmo que nos apeteça agir sem pensar em certas situações), que tenho que relaxar mais e o quão bom é viajar muito mesmo que seja para sítios perto, que temos que aprender a ler as pessoas e cuidar de nós, não dar tudo logo, e sobretudo, aprender a dizer que não!
Agora, estou na relação simultaneamente mais madura e mais infantil em que estive. Na que me ri mais e fiz mais em menos tempo. Na que não tenho vergonha de ser eu própria, mesmo que essa “eu própria” seja uma pessoa rabugenta, chata, dorminhoca, cansada, despenteada, descuidada, desorganizada e sem sentido (eu sei fazer bué boa publicidade de mim própria, eu sei). Estou na relação em que me sinto mais eu, em que puxam mais por mim, mas na que consigo dizer mais vezes que não, sempre sabendo que não vou estar sozinha (só quando ou se eu precisar), naquela em que me divirto mais mesmo sem pôr um pé fora da cama.
Com o meu marido aprendi a saber dizer o que penso, quando o penso, e a ouvir também. Aprendi que não podemos ficar parados à espera que nos caiam as coisas e os sonhos realizados ao colo. Que é preciso fechar os olhos e os ouvidos e seguir mais o nosso instinto (embora, às vezes com alguns travões que tenho que pôr, senão em vez de andar, corremos ou voamos a velocidades supersónica). Que há muitas mas mesmo muitas coisas interessantes neste universo e fora dele. Que a maior parte dessas coisas acontecem fora do trabalho. Que temos que ter MUITA mas MUITA paciência uns com os outros. Que existem pessoas nas quais podemos confiar para tudo e em todas as ocasiões, que estão prontos para fazer seja o que for por nós (sem ser nos meus papás e na minha mana…pronto, que isso sempre soube, estiveram e estão sempre comigo para o que for, mesmo não concordando muito, tal como o faz o meu maridinho lindo). Que nos podemos divertir mais numa viagem de carro a dormir nele, ou mesmo em casa, do que num hotel de luxo, desde que a companhia seja perfeita. E que há sempre cinco minutos em que podemos simplesmente parar para apreciar o pôr-do-sol com um copo de vinho numa mão e a melhor companhia de sempre na outra. Aprendi que podemos encontrar a nossa pessoa mesmo que para isso tenhamos de sofrer um pouco antes.
Se vossemecês me permitem e se é que querem saber (respeito quem não queira, e até compreendo), a mensagem que quero aqui deixar, é que não tenham medo de arriscar, de acreditar e que antes de tudo tomem conta de vocês; que aprendam a dizer o que vos vai na alma, sempre a tentar não magoar ninguém, mas digam, porque os maiores erros e fracassos são resultado da falta de comunicação; que estejam sempre atentos aos sinais que as outras pessoas vos dão e a que nós próprios nos damos; que mesmo que caiam muitas vezes, vão-se levantar de todas elas, sempre (ou praticamente sempre) mais fortes, melhores, com mais conhecimento nesses cérebros abençoados; que provavelmente a vossa pessoa anda por aí e que se não estiver também está tudo bem, porque se devem bastar com vós próprios, a vossa pessoa deve servir para acrescentar e não para completar algo que já é completo: vocês.
Eu sei, coisas que parecem básicas e cliché, eu sei, eu própria também achei (e piroso também), mas também sei que só as aprendi realmente com todas as pancadas que levei e por isso nunca está demais relembrar (e sei que sou chata, portanto, este é só mais um episódio, já não luto contra isso, só lido).
Da vossa Criatura-Mais-Velha!