domingo, 2 de março de 2025

Tentativa #4 – Nova emoção básica reconhecida no sistema: A Raiva.

 A raiva reside apenas no peito dos tolos.” — Albert Einstein

 

É verdade. Descobri que afinal não só de medo e tristeza se faz esta bela Criatura-Mais-Velha.

 

Estive, e estou, a pensar e a repensar no que se passa aqui dentro há tanto tempo que já nem sei dizer quando começou, e que estou em pulgas para saber como o fazer acabar ou pelo menos para saber como o acalmar ou controlar.

 

E de tanto pensar, acho que pelo menos já cheguei a uma conclusão: outra emoção que sinto constantemente é a raiva.

 

Mas raiva numa das suas vertentes mais giras, que é a frustração.

 

Pronto, aqui chegada, perguntei-me a mim própria, mas porquê frustração? Então não era medo, ansiedade e tristeza que estavam para aqui a chatear? Agora queres mais uma amiga, é?

 

A resposta a que cheguei é a seguinte: pelos vistos, foi sempre a frustração que te levou até às outras “amigas” e não ao contrário!

 

É verdade! É a frustração, aliás, são as frustrações constantes desta vida (tenham ou não fundamento válido) que me têm levado neste mundo de incertezas, medos, ansiedade, depressão…Enfim, neste País das Maravilhas de problemas mentais latentes e não diagnosticados…

 

(E agora os pais da Criatura-Mais-Velha que até gostam de ler estes desesperos, mas que desesperam ao pensar que a filha fofa está em apuros, armem-se em fortes, porque vão aqui umas coisitas mais “sensíveis”, mas não se esqueçam que isto é uma zona segura e que é só para desabafar e curar coisas que nem sabia que estavam por curar. Amo-vos muito, de coração, sei que fizeram e fazem o melhor que sabem e que podem (e o que não podem, mas fazem por poder), e que sou uma privilegiada pela infância que tive e pela família maravilhosa que tenho, (a que vocês me deram e que estou eu agora a formar!). Obrigada por tudo!)

 

Portanto, voltando à vaca fria. Pelo que estou a perceber, agora que me debruço mais seriamente sobre estes assuntos, é que as minhas frustrações remontam a tempos antigos, quando ainda vivia num paraíso tropical, em que sorria para estranhos (lembram-se? Eu era aquela criança que sorria para estranhos e tal?).

 

As primeiras frustrações começaram a dar o ar da sua graça em criança, quando queria todos os hobbies e mais algum, mas não me foi autorizada a realização de nenhum deles (somente agora me dou conta disso! Incrível, como há cérebros que demoram tanto a funcionar, mas pronto, é equipamento dos anos 80, têm de dar um desconto) – mãe, pai, mais uma vez, respirem fundo, está tudo bem, é só mesmo conclusões a que cheguei, eu agora compreendo mais do que nunca estes “nãos” a atividades extracurriculares de crianças, acreditem!

 

Quis natação: não, porque tinha as costas largas (e tenho). Quis ballet: não, porque era (e sou) gorduchinha e não dá (também não é mentira). Quis karaté: não, que é para rapazes (verdade categórica na Venezuela dos anos 90). Quis guitarra: não havia meios para. Quis vólei: idem

 

Parece meio triste e dramático, mas não é, nem uma coisa, nem outra. Aconteceu. E sou uma pessoa feliz e (relativamente) saudável apesar disso, e está tudo bem. Só estou a descobrir o que faz de mim o que sou hoje em dia e como posso mudar o que me incomoda.

 

Pronto, isto dito, o que aconteceu a seguir? Ao longo da minha vida, que já vai em três décadas e meia, continuei a querer ter hobbies e fazer coisas que me apaixonavam e dos quais tirava gosto em fazer mesmo dando trabalho. Mas conseguia sozinha e sem qualquer tipo de ajuda “proibir-me” à realização desses hobbies e dessas coisas apaixonantes. Os que tive, que tive alguns como desenho, danças de salão, caminhadas, andar de bicicleta, dentre outros tantos, consegui deixá-los, abandonados por aí. Por vezes, a justificação da proibição ou do abandono das coisas que queria fazer, eram justificadas com motivos de caráter monetário, outras vezes em motivos sem motivo, outras simplesmente porque é mais fácil dizer que não. Resumidamente, descobri que pratico o hobby de autossabotagem, de desistir.

 

Isto reflete-se hoje em dia numa frustração diária, da qual sou eu a responsável mor…Fui eu que criei estas auto-proibições, estas desistências incessantes, e uma corrida atrás de algo que nunca sei bem o que é. Isto já em adulta, até ao nível pessoal e profissional, e não só nos hobbies e coisas giras. Ou porque pensei demais e acabei por ser demasiado racional nas decisões (por razões económicas, por responsabilidades reais ou imaginárias, por medos – também estes reais ou imaginários) e acabei por escolher coisas que não queria na verdade, ou porque às vezes, mesmo gostando muito ou querendo muito fazer uma coisa, torna-se mais fácil não a fazer. Torna-se mais fácil dizer-nos que não a nós próprios, e inventar outras prioridades que não são nossas, mas de outros, da própria sociedade…

 

Certo é que percebo agora que estas frustrações dentro de mim (sentir que não estou a fazer o que gosto em termos profissionais, em achar que já devia ter feito isto e o outro, pensar que se tivesse seguido outra via ou se tivesse tomado outras decisões estaria certamente melhor) são o motivo de estar constantemente mal-humorada, contrariada, rabugenta…Não é a ansiedade, não é a tristeza, não é o medo, é a raiva, nos seus trajes de frustração (cujo significado, para tornar a coisa mais científica, é: “uma sensação de incapacidade diante de desgostos sofridos, diante de obstáculos difíceis de ultrapassar e que impedem chegar onde se deseja. A frustração ocorre quando identificamos um erro entre aquilo que planejamos alcançar e o que realmente aconteceu”).

 

A boa notícia é que estou a tentar proibir-me cada vez menos de fazer coisas que quero fazer e que gosto de fazer (exemplo disso é estarem neste momento a ler a minha Tentativa #4).

 

Solução encontrada: ainda nenhuma (quem diria!), mas suspeito que a solução passe por aceitar que o que passou, passou, e que o que passou faz de mim o que sou hoje em dia. E, em simultâneo saber e lembrar-me todos os dias que ainda estou viva, que estou a envelhecer, mas que isso me está a tornar mais sábia (ou menos ignorante, pelo menos) e que nunca é tarde. Enquanto estivermos vivos, ainda é a nossa vez!

 

Da vossa Criatura-Mais-Velha!