“Paz, amor e empatia!”
Kurt Cobain
Pois é…Hoje não é domingo, não…Escrevo-vos a uma segunda-feira à noite e não a um domingo como habitualmente porque estão perante uma pessoa que acha que ainda tem 20 anos e um fígado como deve ser e se entusiasmou demasiado no fim-de-semana, e teve que trabalhar na segunda-feira bem de manhãzinha. Mas como não podia deixar de ser, o que tenho a dizer em relação a isto é que a culpa é da minha irmã (of course)! Foi o aniversário da criatura-mais-nova e aniversário da minha irmã (ou de qualquer outro elemento da minha família) não é aniversário sem que seja bem regadinho! Parabéns pelos 25 aninhos, maninha!
Bem, terminadas as justificações, passemos ao que me trouxe aqui hoje: a empatia.
A empatia, foi sempre um tema e um sentimento do meu agrado, e tornou-se mais interessante ainda porque descobri (graças ao raciocínio do Dr. Paulo Moreira) que por vezes traz consigo emoções opostas a ele.
Bom, para começar a falar sobre a empatia, nada melhor do que fazer uma visita ao dicionário online e colocar aqui a definição, para que tenhamos neste blog maravilhoso um pouco de cultura e não só queixumes e ideias estranhas.
Então, segundo a Infopédia, Dicionários da Porto Editora, embora existam algumas definições do que é a empatia, a “empatia tem sido normalmente definida como a capacidade psicológica que permite, de uma forma aprofundada e íntima, a compreensão de ideias, sentimentos e motivações de outras pessoas.”
Por outras palavras (penso eu de quê) a empatia é uma capacidade que nos permite compreender o outro, querer compreender o outro e dalguma forma ajudá-lo a transmitir de forma livre as suas ideias, sentimentos, emoções…basicamente, de transmitir o seu “Eu” sem que seja pressionado ou limitado pelo julgamento e críticas dos outros.
Desde pequena que me lembro de ter esta capacidade ou pelo menos um pouco desta capacidade (vá lá, que tenha alguma ao menos). Lembro-me de tentar sempre ver o outro lado, mesmo daquelas crianças amigas, ou não tanto, que me apetecia só pôr numa caixinha e mandar de volta para o país das cegonhas.
Sempre achei que as pessoas não podem ser más somente porque sim, somente porque lhes apetece ser más, porque lhes apetece simplesmente chegar e gritar com os outros só porque os outros não fazem as coisas de forma como essas pessoas acham que deve ser feito. Sempre achei que essas pessoas podem ter algo para contar que faça perceber o porquê de toda essa raiva interior e o porquê de a despejarem em cima dos outros de forma gratuita.
Ou as pessoas não são chatas e queixosas porque querem, porque não encontraram outro hobby nesta vida ou porque nasceram assim e não houve dinheiro para o arranjo (aqui me identifico muito)…Acho, usualmente, que podem ter sido, por exemplo, ignoradas em criança, ou mesmo em adulto e é uma forma de chamar a atenção, ou de simplesmente desabafar porque não têm propriamente com quem falar.
Ou aquelas que são extremamente arrogantes, donas do seu nariz, que não aceitam críticas mesmo que construtivas, porque se acham a última bolacha do pacote, e que olham para outras com nada mais do que desdém e uma pena incomensurável porque não lhe chegam aos calcanhares (coitadinhas dessas pobres almas inferiores…). Com estas, normalmente, a minha capacidade de empatia não é tão boa, mas tento sempre ver ou perceber o que se passou, se é para compensar alguma coisa, alguma insegurança…
Ou, por outro lado, em relação àquelas pessoas que são “muito estranhos”, que não seguem os padrões e se assemelham a crianças pequenas e inocentes que dizem e fazem tudo o que lhes apetece, com demasiadaaaa energiaaa, quanto a estas gosto de tentar perceber se é porque querem aproveitar a vida, se já passaram por alguma privação e estão a libertar-se, porque acham que é a única forma de que as pessoas as achem divertidas, ou por outro motivo qualquer.
Normalmente (ao menos que a pessoa seja uma completa besta, com a qual a minha capacidade de lidar fique inexistente), tento – tento, nem sempre consigo, muitas vezes por falta de paciência e energia - perceber o que se passa ou o que se passou para que aquela pessoa seja assim e tenha uma dificuldade tão grande de lidar com os outros e dos outros a lidar com essas pessoas.
Normalmente, quando faço isto chego rapidamente à conclusão de que efetivamente alguma coisa se passou ou se passa na vida dessa pessoa que somente tentando conhecer e perceber, falar, ultrapassar o primeiro obstáculo criado por elas mesmas ou por nós perante elas, é que é possível compreender e fazer a diferença, na vida da pessoa ou na nossa própria vida.
Lembro-me em particular de quando eu tinha mais ou menos oito ou nove anos, ou talvez menos até (ainda estava eu na Venezuela), havia uma menina que como que se metia no nosso grupo de amigos, queria fazer parte. Mas, essa menina, em vez de se enturmar e de brincar connosco, escolhia sempre a violência, o choro, a manipulação, a agressividade quando era contrariada ou quando os outros não queriam brincar com ela. Essa menina era a minha vizinha do lado, e rapidamente percebi o porquê dessas atitudes, a menina era maltratada pelos pais e pelo irmão mais velho (e este, por sua vez, era maltratado pelos pais), negligenciada, humilhada…enfim…não souberam ser pessoas decentes para ela e fizeram com que ela se achasse inferior e que para se defender era preciso ser assim.
Um dia decidi ir falar com ela seriamente (sim, com os meus muito maturos sete/oito/nove anos de idade), decidi ouvi-la e decidi transmitir o que todo o grupo sentia em relação a ela e os motivos…Não é que a menina, com muito esforço (porque estava a contrariar as defesas que tinha montado inconscientemente) começou efetivamente a fazer parte do grupo? Achei brutal. Como uma hora de conversa com alguém, para tentar perceber a sua versão e os seus motivos pode mudar uma vida. Claro que não fui eu que lhe mudei a vida, calma! Foi ela própria, porque tem que partir de cada um, como é óbvio, concordar ou não com a visão externa. O que quero dizer é que às vezes basta abrir a frechazinha, para conseguir fazer com que a pessoa se sinta compreendida, para que tudo mude, para que se entendam as perspetivas um do outro, e mesmo que aos poucos e com esforço, mesmo que demore anos um bocadinho de empatia pode fazer maravilhas nas relações pessoais.
Acho que esta é uma das magias da empatia. É conseguir fazer com que a pessoa se sinta compreendida e não corrigida ao jeito dos outros, não julgada, que consiga dizer como se sente sem ouvir um “ai que exagero!” ou “isso não faz sentido”.
Não, não estou a dizer isto ou a falar disto para me armar em boa samaritana, em bondosa e numa “anja” que caiu do céu. Nada disso. Aliás, a empatia é algo que ainda estou a tentar trabalhar nas minhas relações pessoais, em particular, na relação com a minha filha e as minhas enteadas, porque tenho descoberto que é mais fácil ser empática com pessoas que se conseguem tentar explicar melhor, do que com crianças que muitas vezes nem sabem bem dizer se têm fome ou sono (quem diria…). É um dos meus objetivos de vida conseguir ser mais empática com as crianças, sendo adulta (ou tentando sê-lo). Sei que pode parecer estranho, mas para mim é muito mais difícil criar esta empatia com crianças, não sei se é por ser mais difícil ter também empatia da parte delas que não compreendem a vida de adulto, ou porque já me esqueci de muita coisa de quando eu era criança, ou certamente poderá ser uma mistura destas duas realidades.
Pensem o quão difícil é não dizer a uma criança que não precisa de chorar porque o seu desenho se molhou e se estragou; ou que não deve chorar ou queixar-se da comida que tem à frente porque só se deverá queixar se algum dia não tiver comida no prato; ou exigir à criança que pare com a birra porque se esqueceu do boneco em casa e ainda acrescentar que somente se esqueceu porque é uma cabeça no ar…
Eu ainda faço muito isto. Mas a boa notícia é que, em vez do que acontecia anteriormente em que até que sentia um certo orgulho em fazer as crianças parar de chorar ou de serem chatas rápido, agora, cada vez que faço isso de despachar a emoção chata da criança porque já chegam as minhas, me sinto uma péssima pessoa.
E então agora, quando estou perante alguma destas situações ou similares com a minha filha de sangue e com os meus filhos do coração, respiro (muitoooooooo) fundo e conto tipo até 1250 dez vezes e pergunto-lhes o que se passa e porque acham que estão assim e se acham que há solução, se não chegam lá sozinhos dou-lhes uma ajudinha, até partilhando os meus sentimentos e emoções com eles também (para que não continuem a achar que sou só uma pessoa idosa muito chata e que não suporta ruídos e crianças) e a coisa está a correr muito melhor…
Sim, soa piroso, eu sei, mas o que é certo é que parece que está a resultar, elas sentem-se ouvidas e acalmam muito mais rápido e a minha relação com elas e a delas comigo (que também devem falar horrores de mim às outras crianças todas, uma vergonha e uma falta de empatia tremenda destas crianças para comigo, incrível!) tem vindo a melhorar.
Portanto, mais uma vez fica o meu apelo à empatia entre as pessoas (vá, com os animais também podem tentar, mas pode ser um pouco mais difícil, não sei…). Mas agora a sério, tentem de vez em quando olhar para a pessoa colocando-se não só a sua perspetiva mas todas as condições à sua volta, tentando perceber a sua história, as suas emoções e a força com que as suas emoções a invadem e a capacidade de gerir ou não essas emoções (eu também vou continuar a tentar, prometo).
Acho que só assim é que o mundo poderá seguir em frente (acho sempre incrível como o ser humano passou por tanta coisa, já tem tanta, mas tanta informação e continua a não querer saber e a repetir os meus erros, vezes e vezes sem conta e a odiar-se por coisas tão vazias) – pirosa outra vez, eu sei, habituem-se.
E agora, como demonstração da minha possível bipolaridade e capacidade de mudar de conversa e de vibe, e só porque sim e porque achei interessante partilhar, seguem duas “curiosidades” que descobri há muito pouco tempo em relação à empatia:
1.º - Sabem que há uma diferença enorme entre empatia e simpatia? Eu não
fazia ideia. Mas, portanto, resumindo, a empatia é o que tentei explicar acima,
ou seja, é o tentar compreender o outro e dar-lhe espaço para que se possam exprimir
e partilhar um pouco das nossas experiências semelhantes ao que a pessoa está a
passar para criar ligação. A simpatia é como que um mecanismo para tentar
simplesmente afastar os sentimentos/emoções negativas que a pessoa nos está a
transmitir que está a ter. É basicamente quando, perante uma situação em que há
uma emoção negativa da parte do outro, ou porque está chateado, ou triste ou
queixoso, dizemos coisas tipo: “Ah, então?! Não estejas assim, olha que
podia ser bem pior…Tipo podia cair agora um meteorito em cima de nós ou assim, para
de te queixar e vamos continuar a fingir que está tudo bem porque é muito mais
confortável e dá-me menos trabalho”.
2.º - Já pensaram que o facto de odiar pessoas que não têm empatia com os
outros faz com que se deixe precisamente de ter empatia com essas pessoas, e ao
ter aversão por essas pessoas significa, também, que surge a emoção do nojo
(sim, o nojo é uma emoção básica – se não sabiam significa que têm que ir ver o
filme DivertidaMente, muito bom, recomendo, mesmo já tendo sido obrigada a vê-lo
uma infinitude de vezes). Muito interessante e revelador do paradoxais que
conseguimos ser como seres supostamente racionais. Gostei muito deste
raciocínio (ou parecido) by the Doctor Paulo Moreira.
Bem, e é isto. Já desabafei e transmiti cenas e coisas e já posso ir dormir descansada. Obrigada por lerem os meus devaneios! Prometo que vou tentar ser fiel aos domingos e ser mais responsável com as Tentativas.
Da vossa (empática) Criatura-Mais-Velha!