domingo, 30 de março de 2025

Tentativa #8 – Ansiedade e Procrastinação: O Eterno círculo vicioso.

“A procrastinação é a prima preguiçosa do medo. Quando sentimos ansiedade em relação a uma actividade, adiamos." 

Noelle Hancock 

Ora, olá, de novo! Hoje venho falar-vos de duas velhas amigas minhas, muito docinhas que elas são e que sei que são amigas comuns de uma percentagem muito elevada de pessoas neste mundo. Essas amiguinhas são a Ansiedade e a Procrastinação (que cá para nós que ninguém nos ouve, acho que são mais do que amigas entre elas, porque andam sempre de mãos dadas…).

Portanto, vou apresentá-las para que estejamos todos a saber que estamos a falar das mesmas queridas:

A Ansiedade define-se como sendo “uma emoção normal, experienciada pelas pessoas no seu dia a dia, e caraterizada por sentimentos de tensão, preocupação, insegurança, normalmente acompanhados por alterações físicas como o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudação, secura da boca, tremores e tonturas.” (segundo a CUF, não fui eu a inventar). Quando se mantém durante períodos prolongados (mais de 6 meses), já é considerado como transtorno de ansiedade (ela fica transtornada, coitada…e tem que ser tratada).

A Procrastinação, por sua vez, define-se como adiar o início (ou término) de uma tarefa geradora de stress/desconforto (esta vem assim como quem não quer a coisa…às vezes vem só naquela de “ah, não olhem para mim, só sou uma preguicita que está a dar”).

Apresentadas aqui as lindinhas, começo por explicar a quem não me conhece que tenho a teoria de ter nascido já ansiosa e cansada, os meus pais negam, mas eu acredito piamente nisso.

Sim, sou uma pessoa ansiosa desde que me conheço como pessoa. Tinha episódios por volta dos meus 5 aninhos ou mesmo antes em que não conseguia parar de me sentir mal, com um frio na barriga, mesmo muito, muito incómodo, idas constantes ao WC (peço desculpas se firo sensibilidades com o tema cocó, mas pronto, estamos cá para isso) e choro aparentemente sem motivo real de dor. Do que me lembro, estes episódios aconteciam quando sabia que tinha que falar em público, conhecer pessoas novas, ir ao médico (mesmo que fosse só para dizer um “olá” e receber uma guloseima e um autocolante) e quando pensava na morte (sim, já com essa idade preocupada com a morte).

A sensação/emoção começou a ser mais constante desde que vim morar para Portugal, o que acaba por ser normal…Deixei amigos, família, os meus conhecimentos e o meu cantinho quentinho, para vir para este frio eterno, onde na escola já davam inglês há dois anos e onde a matemática já começava a misturar letras (Deus, que martírio). Tive que conhecer pessoas novas, fazer amigos e encaixar basicamente 2 anos e meio de conhecimento num cérebro de 11 anos no mais curto espaço de tempo possível. Consegui, com a minha amiga Ansiedade sempre ao meu lado “a apoiar-me”.

Eu pensava que isto ia passar quando me ambientasse. Só que não.

Na verdade, já não me lembro bem como é existir sem ansiedade, não me lembro de quando foi a última vez em que passei um dia inteiro sem me sentir ansiosa (tenho momentos em que a Ansiedade deve ir num instantinho buscar um copo de água, mas depois volta toda feliz da vida, muito bom…)

Isto foi piorando em crescendo ao longo da vida. No secundário a Ansiedade deu um pulo (tinha metro e meio e passou para 1,80m, muito provavelmente fruto da adolescência – já eu continuo com os meus 1,57m, injustiças desta vida), na faculdade ficou mesmo robusta, e deu cabo de mim quando comecei a trabalhar na minha profissão atual.

Tive ataques de ansiedade, emagreci, engordei, comi desenfreadamente a ver se passava, deixei de comer, chorei, berrei, tive ataques de riso, isto com muitas festas intestinais pelo meio (epa, tem que ser, toda a gente sabe que é verdade, não vamos estar aqui com coisas, quem não tem, não conhece deveras a minha amiga Ansiedade). Enfim, descontrolei-me (ou o meu sistema descontrolou-se) a um ponto de se refletir fisicamente e de achar até que tinha cancro no estômago ou no intestino, porque as dores e as consequências eram já demasiadas, estava a emagrecer de um dia para o outro sem perceber o porquê, estava com cansaço extremo, sem vontade de nada nem de ninguém, e decidi que era tempo de pedir ajuda e fui à psicóloga.

Lá fui eu, toda contente para ser diagnosticada com Ansiedade e Depressão, e ser informada de que estas duas fofas são consideradas doenças crónicas, o que significam que não têm cura definitiva. Temos que aprender a lidar com elas e a usar mecanismos para as controlar e acalmar, sem recorrer a fármacos (tomei antes de ir à psicóloga, receitada pela médica de família e basicamente passei uns dias a ser um zombie ansioso). Portanto, é mais ou menos como aquele vizinho chato do qual não nos podemos livrar e só nos resta lidar o melhor possível com ele para que não chame a polícia se fazemos um bocadinho mais de barulho numa sexta à noite.

O que sinto ou o que me acontece (eu ia dizer quando tenho Ansiedade, mas é que na verdade é uma constante, simplesmente fica mais ou menos intensa ao longo do dia consoante as situações e pensamentos que me passem pela ideia) é o coração acelerado a parecer que queima; estômago com um aperto (às vezes nem consigo comer); acelero a velocidade com que falo; sorrio demais e digo piadas demais e demasiado parvas em momentos em que não é suposto; ou então, em contraste, fico demasiado quieta e de trombas a ver se passa, também em momentos em que não é suposto; fico com as mãos e os pés gelados e a suar; tenho mil e tal pensamentos em simultâneo e nenhum se conclui verdadeiramente, o que se reflete em começar mil e uma coisas de uma vez e ser muito difícil completá-las (seja em casa ou no trabalho, quem me acompanha no dia-a-dia bem sabe do que estou a falar…ups); fico com a boca seca e com o pé a bater no chão (mas a tentar não fazer barulho para não incomodar, porque pensar que incomodo também me dá ansiedade...).

Ah! E tenho o superpoder de ficar ansiosa com coisas reais e com coisas fictícias, com coisas e situações hipotéticas imaginadas, que normalmente nunca acontecem, o que é maravilhoso porque tenho todo o desgaste a que tenho direito mas sem motivo. É muito giro. Já cheguei a ter insónias e a criar na minha linda mente trabalhos, prazos e clientes que não existiam! Sou mesmo muito criativa, eu.

Enfim…isto em relação à Ansiedade. Depois vem a outra malandra, que é a Procrastinação, que as pessoas têm tendência a identificar somente como preguiça, mas por vezes por engano. Claro que o ser humano tem sempre o seu quê de preguiça, acho que não há ninguém que não tenha, mas a minha ligação com esta maravilha da natureza é mesmo forte.

Eu sou procrastinadora profissional, tanto em casa como no trabalho. Tento lidar com isso e combater, forço-me (não é esforço-me é forço-me mesmo) a realizar as tarefas, e acabo por as fazer (mais ou menos todas, pelo menos as que não posso não fazer). Parece fácil, não é? Estou mesmo a ouvir aquelas vocês "Então, mas se tens que fazer, faz, fica já feito pronto". Pois é, amigos, eu bem gostava. Mas já sentiram agonia, ânsias, dores no corpo e até vontade de vomitar porque têm que fazer mesmo uma tarefa mas não querem? Eu sim, muitas vezes, demasiadas vezes, aliás.

Outra coisa gira é  que ainda por cima, quando procrastino, vem outra vez a bela da Ansiedade. Vem-me dizer coisas tipo “Estás a gostar de não fazer o que devias estar a fazer?”, “É esse o exemplo que queres dar aos teus filhos?”; “Descansar é bom, não é? E tu precisas, mas já viste tudo o que há para fazer e ainda não fizeste?”, “Linda vida a tua, quando vires a consequências desse deixar para outro dia vai ser bonito vai”; “Continua assim que vais longe”. Sim, a Ansiedade é uma simpatia! E o pior é que tem razão, mas fazer as coisas com antecedência e do início ao fim chega a tornar-se mesmo fisicamente penoso e doloroso, mas não sei bem porquê, se é medo de falhar, se é o cansaço a dizer que tens que parar mas as responsabilidades a tentar falar mais alto e a dizer que tens que continuar a fazer coisas, se é não gostar mesmo do que se está a fazer e querer recompensas rápidas, não sei se é uma das opções anteriores ou a mistura de todas. O certo é que procrastinar está sempre na minha "lista de tarefas" (que irónica e engraçada que é a fofa que aqui vos escreve, não é?), mesmo que de forma inconsciente.

Hoje e quanto a este tema não tenho nenhuma mensagem de conforto nem de esperança, porque ainda estão aqui a morar comigo estas duas preciosidades. Já tentei várias coisas para lidar com as duas, funcionam durante uns tempos mas depois voltam muitas vezes melhores e mais fortes…Portanto, desta vez fica aqui é mais o apelo sobretudo para aquelas pessoas calmas e com tudo sempre ao dia que eu admiro sempre que vejo: Se souberem de alguma coisa que ajude e que ponha estas coisinhas fofas a dormir ou assim, agradeço, que comigo elas estão sempre prontas e ao serviço.

Obrigada pela atenção dispensada.

Da vossa Criatura-Mais-Velha!

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