"Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir conforme o que pensamos, isso ainda o é mais."
Este blog existe basicamente para desabafar angústias e desesperos do dia-a-dia, na esperança de encontrar mais desesperados desta vida que não queiram desesperar ou dar em loucos sozinhos. Portanto, vamos nesse desespero de mãos dadas para ver se custa menos.
domingo, 29 de junho de 2025
Tentativa #21 - Pensamentos intrusivos
domingo, 22 de junho de 2025
Tentativa #20 - Pais e filhos
“Criar filhos é a coisa mais fácil do mundo quando se opina, mas a mais difícil de se fazer”
Matt Walsh
Eu considero que tive e tenho uma ótima relação com os meus pais, mesmo na adolescência, mesmo com algumas perdas de paciência e arrependimentos de palavras e de ações que tanto de uma parte como da outra existam.
Os meus pais não me deram muita liberdade para andar por aí a vadiar, se calhar por isso hoje em dia sou mais caseirinha e não tenho paciência para grandes avarias (e acho que o meu fígado lhes estará eternamente grato, que pelo menos até aos 18 anos esteve praticamente alcohol free). Em troca, deram-me muita atenção e lições de vida que ainda hoje em dia me servem de base e que fizeram com que não fizesse tantas asneiras e que fizesse umas quantas de forma um bocadinho mais consciente.
Lembro-me de risadas todos os dias com os meus pais, e com a minha irmã, lembro-me de conversas íntimas com a minha mãe e de conversas profundas e filosóficas com o meu pai (que normalmente tinham lugar tarde e a más horas, e que tinham como som ambiente a minha mãe a implorar para irmos para a cama e para pararmos de uma vez com o barulho, bons tempos…) e lembro-me de uma coisa que todos os meus amigos viam como uma aberração: contava TUDO aos meus pais (e ainda hoje conto). Mas quando digo tudo era tudo, tipo tudo. E contava normalmente primeiro à minha mãe que dizia logo a célebre frase "agora vais ter que contar tu ao pai", o que usualmente acontecia depois de ter contado que tinha feito alguma porcaria. Era uma agonia, admitir o erro, admitir a asneira, ser responsável por ela e assumir o castigo que eventualmente surgisse (às vezes não surgia, porque, normalmente havia sempre uma segunda chance e eu não era parva o suficiente para não a aproveitar…resumindo, havia asneiras, mas normalmente não as repetia), mas lá ia eu contar ao meu pai, que só de olhar para o meu ar já sabia que vinha “bomba”.
Penso que isto tudo me fez ser sempre um ser muito consciente das merdas que ia fazendo e de admitir logo que as tinha feito e assumir as consequências. Ainda hoje sou assim. Faço a asneira, apercebo-me da asneira, vou correr pedir desculpas, por vezes sou desculpada, outra vezes a asneira é grande demais e não tem desculpa, mas faço de tudo para a não repetir seja qual for o resultado.
Não consigo ser Chica-Esperta, graças aos meus pais, porque não consigo
fazer cenas pela calada. Tem partes boas - sou muito lindinha e honesta - mas
tem partes más - às vezes dava-me jeito não ser tão honesta mas não consigo,
até porque quando tento faço uma cara muito pouco subtil, tipo uma mistura de
olhinhos de carneiro mal morto com ar de quem está a tentar ignorar alguém na
rua mas em que acaba por dar de caras.
É bom, sim, objetivamente, é bom ser-se assim, mas na vida adulta, sobretudo, dava jeito não o ser, às vezes, só às vezes…
Isto é na vida de Criatura-Mais-Velha como filha. Fui uma filhinha que deu poucas chatices, ou então uma filha de pais com memória curta, porque é o que os meus pais transmitem, que não dei muito trabalho (só era chata, mas isso, enfim, nada a fazer).
Agora na vida de Criatura-Mais-Velha como mãe...Ui! Isso é que é lindo de se ver...
Dou por mim muitas vezes a pensar "se calhar não era má ideia ler livros sobre como educar crianças e seguir influenciadores que defendem a teoria da parentalidade positiva e aparentemente a aplicam".
Muitas vezes consigo parar e respirar fundo antes de explodir, e não vou negar, por vezes fico orgulhosa da minha postura perante o caos que volta e meia se instala por diversos motivos (a título de exemplo, porque a minha paciência está mais parca do que o sentido que tem o julgamento dos Anjos contra a Joana Marques, porque estou de TPM, porque são quatro pessoas do sexo feminino a lidar umas com as outras, porque estou de TPM, porque estamos cansadas e com sono, porque há saudades da mãe biológica, porque há saudades de estar sossegada em silêncio, porque naquele dia não se gosta da comida de que sempre se gostou e até se pediu para repetir o prato, porque não as deixo ajudar, porque lhes peço para ajudar...Enfim, podia estar aqui uma tarde inteira a teclar que não terminava de dar exemplos dos gatilhos que levam a que a pouca paciência e diplomacia existente de repente desapareçam mais rápido do que camarão com 80% de promoção).
Quando tive a minha filha eu pensei: "Epa, isto se calhar até nem vai ser a coisa mais difícil, treinei com a minha irmã, a minha mãe diz que eu tenho muita "psicologia para lidar com crianças", eu vou conseguir ser uma mãe fixe e descontraída, vou praticar parentalidade positiva, porque não é suposto gritar com os miúdos e porque nós é que somos os adultos e eles são crianças e é normal quererem testar limites e ver até onde podem ir e como podem ter as coisas que querem..." Toda uma mão cheia de pensamentos lindos e maravilhosos. Uma série de sonhos e de expectativas que simplesmente não aconteceram! Ahahah quem diria! Eu não sou perfeita? Nah, impossível, se eu faço tudo pelos miúdos, se eu os ouço e quero ajudá-los.
É, muito giro. Mas nesses pensamentos lindos cheios de arco-íris e borboletas e unicórnios em que pensava que criar crianças era peanuts, esqueci-me de pequenos pormenores como os que passo a listar:
- Sou humana, e uma humana com parca paciência;
- As pessoas mudam, e, felizmente mudei coisas para melhor, mas, infelizmente, sei que mudei outras para pior (e quem lida comigo no dia-a-dia é que atura estas coisas, até um dia se fartarem, vamos fazer figas para que seja num futuro muito longínquo, porque gosto muito das pessoas que me aturam no dia-a-dia);
- As crianças precisam de ser crianças e não peluches fofos que não fazem nada de mal;
- Que há dias em que nem sequer nos apetece comer a nossa comida favorita, nem fazer o que mais gostamos, quanto muito estar a lidar com o caos e com as responsabilidades todas ligadas a tratar de crianças;
- Que este último fator se aplica a crianças, que, embora não comprem nem façam a sua comida, têm dias em que não lhes apetece simplesmente comer o que têm à frente no prato, sendo esta uma coisa que parece simples, mas difícil de lidar (se deixas que não comam estás a deseducar, se forças estás a fazer algo que não gostarias que te fizessem…enfim…mais um dilema no meio de tantos);
- As pessoas, mesmo as pessoas pequeninas, não têm empatia com todas as demais pessoas, e haverá momentos em que só nos apetece mandar-nos mutuamente para certos sítios;
- As crianças têm gostos diferentes dos nossos e pensam por si (embora precisem da nossa orientação para poder estruturar os pensamentos e as escolhas da melhor forma, só assim para poderem ir sobrevivendo, evitando pôr os dedos na tomada e facas nos olhos ou assim);
- O que resulta num dia no outro pode não resultar e temos que apagar tudo e criar uma nova solução para a mesma situação (esta parte para quem gosta de escape rooms do demo é muito bom, aguça o engenho e a arte de usar o cérebro);
- Há dias em que só nos apetece estar no nosso cantinho (aplicável a crianças e adultos) e nem sempre nos apetece fazer a nossa rotina ao ritmo dos outros, o que pode ocasionar birras (aplicável a crianças e adultos).
Com a idade que tenho já tenho amigas e amigos com filhos. E, claro está,
falamos destas questões, já lhes expus até à exaustão as minhas opiniões e
medos em relação a criar pessoas pequeninas, e já me cruzei com vários
entendimentos, uns mais rígidos e outros mais liberais em relação a este
tema...
Tenho amigos que efetivamente engoliram todos os livros sobre como criar crianças sem exaltações e gritarias, e dentro deste grupo tenho alguns que conseguem (ou dizem que conseguem, que não estou lá para ver, graças a Deus, porque já me basta o meu caos, agradecida) aplicar efetivamente o que leram e que qualquer um consegue e que é só uma questão de esforço e de hábito; e depois tenho outros amigos que admitem que leram mas que não conseguem aplicar, e que até já queimaram os livros e fazem simplesmente o que lhes dá na gana, sem querer saber da opinião dos outros.
Existem outros que nem sabem bem o que é ter filhos porque feliz ou infelizmente têm uma rede de suporte tão ampla e constante que o ter filhos é quase um hobbie (um hobbie muito querido, mas que não deixa de ser hobbie porque só o fazem nos tempos livres).
Por fim, há outros (dos quais penso fazer parte) que tentam ir fazendo o melhor possível, um pouco com os ensinamentos dos pais, um pouco com o que leram, a corrigir certas situações com as quais não concordavam na sua própria educação, e que gritam, e que dão mimos, e que se sacrificam pelos filhos, mas que tentam manter o seu espaço para ser eles próprios crianças e pessoas normais e para poder namorar e dizer à pessoa que está ao lado o quando o amam, mesmo que às vezes na correria do dia-a-dia, o cansaço e os pequenos traumas do passado e do presente os atormentem. Estes pais que tentam não prestar demasiada atenção a tudo o que se tem a dizer quanto a este tema para não dar em maluquinhos, mas que, no final do dia, acabam a sentir-se mal, incompetentes como pais, tristes e preocupados de estar a fazer mal aos filhos sem querer.
E isto porquê? E quem segue este entendimento, por favor não me levem a mal, mas é a minha opinião...A culpa é daqueles que passam a imagem da perfeição (tal como acontece nas redes sociais em relação ao físico e ao estilo de vida e à felicidade e alegria constantes, aqueles aos quais já desejei coisas menos boas ligadas com Legos e assim...), há pessoal por aí apregoando que os pais só são bons se pensarem nos filhos como Deuses que não se podem enervar, nem frustrar, nem ouvir gritos, nem sofrer consequências daquilo que andam a fazer, que não eles são crianças e que não nos estão a desafiar, que eles simplesmente não se sabem fazer entender, porque eles próprios não se entendem…
Concordo em parte, por exemplo, concordo com facto de os miúdos serem só miúdos ainda com muito para aprender e muita coisa com que se frustrar e com que nos frustrar a nós, e que devemos ter paciência nesta parte, porque às vezes nem nós sabemos que caraças se passa connosco e já levamos mais anos nisto, quanto mais uma criança que mal está a aprender a escrever e a ler e a ter algumas responsabilidades na escola, e a conhecer o seu corpo e quem tudo é da sua cor e do seu sabor favoritos.
Mas por outro acho que tem que existir regras e que as crianças têm que se frustrar e estar entediadas, sim, senão vamos ter um mundo ainda mais caótico e auto e hétero destrutivo do que já temos! Temos que saber dizer não e a ouvi-lo também (mesmo que doa um e outro). Eu sei que ninguém ou quase ninguém gosta de regras, porque todos, mesmo os pequeninos gostam de liberdade e as regras vêm tirar parte dessa liberdade, mas também nos ajudam a respeitar os outros…
Enfim, olhem, aquilo que eu sei é que continuo a dar em louca de vez em quando, e a pôr os outros loucos também, mas no meio desta loucura toda, só espero que aqueles que ando a tentar criar sejam gajos porreiros, que respeitem minimamente os outros, que saibam que as coisas (boas e más) não caem do céu e que são resultado do que fazemos, que temos que arcar com as consequências dos nossos atos e que, acima de tudo, mesmo, mesmo, para não pirarmos de vez, temos que tentar ver sempre o lado positivo das coisas e ter sentido de humor mesmo que estejamos a chorar por dentro e por fora, porque o humor cura tudo (ou pelo menos ajuda a que não machuque tanto…).
Fui!
Da Vossa Criatura-Mais-Velha.
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Tentativa #19 – Pico de Energia.
“Minha alma está cansada da minha vida.”
Fernando Pessoa
Então, inspirada fiquei para esta tentativa no dia 10 de junho de 2025 (feriado no nosso lindo Portugal, que se coisa mai’ boa há em Portugal são os feriados), quando dei por mim a assistir e a ser alvo direto de um evento raro em minha pessoa. Sim, tive um raríssimo “Pico de Energia”.
Nem queria acreditar que o meu corpo e a minha mente eram tão teimosos ao ponto de pensar “Ah, é feriado, que giro…Vamos descansar como uma pessoa normal faz ao feriado? Claro de não, vamos começar a fazer coisas feitas loucas porque, pronto, porque sim…” Fiquei com raiva e frustrada comigo própria por não estar em sintonia com o que era suposto fazer naquele dia, ou seja, por não fazer algo que quero sempre fazer, muito, que é descansar. Mas depois pensei, bom, evento tão raro tem que ser aproveitado, e assim foi.
Arrumei e limpei a casa toda, tratei da roupa, das miúdas, de mim, li, fiz exercício, cozinhei, preparei almoço e lanches para o dia seguinte, ainda li mais um pouco e pronto, decidi que sim senhora, já eram horas de descansar, quando eram já 23h00. Pareceu-me boa ideia.
Mas o que é que acontece? Aqui esta alminha esquece-se que o seu estado normal varia entre cansaço e cansaço extremo e que, como é óbvio, tinha esgotado toda a energia num dia só, o que significava com isso que estaria (e estou) os dias que se seguissem, no modo “cansaço extremo, por favor, só quero hibernar em modo surdo, cego e mudo. Obrigada, a gerência”.
Como é óbvio não posso hibernar, porque, embora por vezes possa ser confundida com uma ursa (e até já me chamaram esse nome carinhoso), certo é que biologicamente não o sou (até mais ver), e, portanto, não posso usufruir dessa vantagem…
O que me fez pensar: de onde caraças vem este cansaço que parece que não me larga há mais de 15 anos?
Sim, não percebo…Durma ou não durma, trabalhe ou esteja de férias, tenha pessoas a fazer as tarefas comigo ou não, a resposta à pergunta “Então, como estás?” é sempre ou quase sempre “Bem, cansada só” (“só”).
Houve uma altura em que este estado era tão crítico que chegava a adormecer à mesa, a jantar, tipo de garfo na mão…
Agora consigo só adormecer a ver filmes, a ler e com conversas chatas. Já é uma evolução.
Mas por acaso às vezes preocupo-me, é que andar sempre cansada não dá lá muito jeito no dia-a-dia em que tens que fazer cenas, tipo existir e trabalhar e assim…
É que quando estou pior desta minha vida de cansaço, não me apetece fazer nada de nada, tipo nada….Só sinto saudades da cama, penso na cama, penso nos meus olhinhos a fechar e a encostar a cabecinha na almofada que está na cama e até fico com arrepios na espinha…É tão bom dormir. É tipo comer ou dormir? Dormir a comer, seria a minha resposta…
Num apontamento um bocadinho mais sério, que também é preciso, às vezes fico preocupada porque já estou a fazer tudo ou quase tudo o que dizem que se tem que fazer para não nos sentirmos tão cansados e nada funciona.
Coisas tais como, comer de forma saudável, fazer exercício físico pelo menos 3 vezes por semana, ler, diminuir tempo de ecrã antes de ir para a cama, tentar manter o espaço arrumado, dormir a uma temperatura agradável, contar carneiros, respirar conscientemente, pensar em nada…enfim, tudo. Normalmente, o último tópico indicado é que me lixa, que é “dormir bem” (quem diria…) é esse que muitas vezes não consigo cumprir.
Eu tento, juro que tento, mas não consigo de forma alguma no meu dia-a-dia dormir as “pelo menos 8 horas diárias recomendadas”, há noites em que não consigo dormir nada bem, ou são as melgas (os insetos ou as outras que tenho em casa), ou é o cão da vizinha (que o que tem de fofinho tem de alarme contra tudo o que existe à noite, até o ar…) ou outra coisa qualquer a acontecer ou não.
Então voltamos ao mesmo resultado: cansaço.
E com o cansaço vêm coisas muito giras tipo: um mau humor do demo, mais fome (e não propriamente por coisas saudáveis), menos paciência, mais vezes a ouvir a célebre pergunta “Estás bem? Estás com mau aspeto”, mais vontade de consumir álcool (para ver se dá o sono), vontade nula de fazer coisas, esquecimentos (muitos, das mais variadas categorias, tipo desde não saber onde pus o comando da TV até me esquecer da mochila das miúdas em casa – bem, antes isto do que levar as mochilas e deixar as miúdas, mas nunca se sabe…), dores de cabeça, olhos a arder e inchados, vontade extrema de hibernar (ou estivar ou como queiram chamar), começo a falar em espanhol contra a minha vontade, fico contrariada a fazer tudo (tipo trabalhar, tratar da casa, estar com pessoas, ser eu, existir…), dores no corpo, já falei da falta de paciência?
É uma panóplia de coisas boas e variadas que acontecem devido ao cansaço.
Há cansaços de vários tipos: físico, mental, emocional, social e existencial (deve haver outros, mas estes parecem-me ser os essenciais).
Agora vamos jogar ao jogo “qual destes cansaços é que a Criatura-Mais-Velha não tem?” Acertaram! Nenhum, porque tem todos! Ahahah
O meu favorito é o cansaço existencial, que acho que resume tudo e pronto.
No que toca ao cansaço existencial, diz-nos a Joaquim Chaves Saúde o seguinte: “Este tipo de cansaço é mais profundo e está ligado a uma sensação de vazio ou desalinhamento com os objetivos de vida. Surge quando a pessoa se sente presa num ciclo de tarefas sem um propósito claro ou quando questiona a razão das coisas. Não basta dormir ou relaxar para superar o cansaço existencial; exige reflexão e mudança de direção.”
Estou a tentar refletir e mudar de direção, mas o cansaço não me deixa energia para tal, muito menos para a parte de mudar de direção…Esta pescadinha de rabo na boca é muito boa, é. Dá para ter horas e horas de entretenimento mental, ah sim, porque depois, quando estou assim os pensamentos acontecem, o cérebro é só pensamentos meio que aleatórios a acontecer, e o pior é quando exteriorizo, porque obrigo a quem me atura a seguir este ciclo com lógica zero e meio zombie hiperativo que vai acontecendo.
Juro que eu já coloquei em causa se não seria bipolar ou coisa parecida (isto, sem querer menosprezar ou gozar com quem o é efetivamente e está medicado, porque é um assunto sério).
Tipo hoje, acordo de um mau humor de cão, porque o alarme quando toca significa que tenho que me levantar para pôr o dia a começar, tenho que preparar as miúdas, a mim (física e mentalmente, sendo esta última parte a mais difícil), tenho que alimentar os bichinhos lá de casa (o gato e a cadelinha), passear a rainha da casa (a cadelinha)…Chego ao escritório, continuo com sono, mas já estou em modo dizer piadas, chatear pessoas e fingir muito bem que trabalho.
Este seria considerado, por mim, um dia de bipolaridade emocional. Sendo que há outra variante, que é acordar a pensar que existir é o melhor do mundo, mas terminar o dia a tentar não agredir ninguém e a ignorar de forma imperativa os meus pensamentos intrusivos. Há outros em que a mente é unânime, acordo de mau humor e de mau humor continuo pelo dia afora, por vezes, continuando este episódio nos dias seguintes…Já raramente há unanimidade em acordar bem-disposta e assim continuar até à noite (normalmente, só se avista este fenómeno em época de férias, em que me deixam descansar).
Ah! Há outra coisa gira quando estou cansada a um nível superior do normal…Procrastino forte…O que significa o quê? Que acumulam as coisas que há para fazer…O que significa o quê? Que vou continuar cansada porque acumulei mais coisas para fazer às coisas para fazer do dia seguinte e em algum momento terão de ser feitas…Muito giro, muito fixe.
E depois há outra coisa, não sou só eu que ando assim. Quase tudo à minha volta anda assim…
Mas isto acontecia também no antigamente? É que me parece que não. Não me lembro dos meus avós e pais a queixarem-se deste cansaço estúpido…Era porque ainda não tinham inventado o cansaço? Era porque havia, mas o pessoal de antigamente é que era, e não se queixava, engolia e pronto? Era porque não sabiam que se podiam queixar, que isso até pode ser considerado hobbie? Não sei…
Mas em relação ao cansaço geral atual tenho várias teorias que quero partilhar:
1. Puseram qualquer coisa no café para nos enganarem, tipo “bebe, bebe que te tira o cansaço e o sono”, só que não! O que tem lá é uma bostazinha qualquer para nos dar mais sono e cansaço e vontade de virar múmia, tipo saliva da mosca tsé-tsé.
2. Encolheram as horas noturnas. O relógio anda mais depressa à noite e pensamos que dormimos 6 horas mas só passaram 20 minutos.
3. Aquelas pessoas que parece que têm energia infinita sugam a energia das outras pessoas todas durante a noite porque fizeram um pacto com um ser do além… (pessoas irritantes, cheias de energia…pfff).
Estou indecisa por qual das teorias me hei de decidir…Mas deve ser uma destas de certeza.
Entretanto, queria ver se finalmente encontrava o caminho para a energia, para ter menos cansaço, ou pelo menos para pensar menos na cama com tanto desejo e ânsias…É agoniante sair de casa para trabalhar e estar a contar as horas para voltar para a cama fazer uma soneca…Se alguém estava assim como eu estou e deixou de estar sem consumir substâncias menos legais, peço o seu auxílio, só quero deixar de ser um poço de fadiga.
Concluindo, estou cansada de estar cansada, cansada ao ponto de ter decidido conscientemente ontem não escrever a Tentativa e deixar para hoje porque não aguentava mais…Sei, poderia ter feito antes, só que não deu, olhem, pronto, hoje estou aqui a aproveitar a hora de almoço para deixar este meu desespero real e contemporâneo, ontem não deu. Vá beijinhos e bom descanso!
Da Vossa cansada de estar cansada Criatura-Mais-Velha!
domingo, 8 de junho de 2025
Tentativa #18 - Inspirações
domingo, 1 de junho de 2025
Tentativa #17 – Meus queridos anos 90
“Oops!...I did it again.”
– Britney Spears
Eu bem dizia que andava meio
nostálgica, e ando, já há algum tempo…A atualidade também não está a ajudar
muito a gostar mais do presente do que do passado e receia-se “um pouco” o
futuro.
E por este motivo tenho pensado
muito nos anos 90 e inícios de 2000, belos tempos, como dizem, e bem, eramos
felizes e não sabíamos.
É verdade que também havia nessa
época guerras, caos e tristeza um pouco por todo o lado.
Mas não podem negar que era tudo
mais divertido e melhor (pelo menos para quem passou a sua
infância/adolescência nessa altura).
Primeiro e principal, podíamos
dizer o que nos apetecesse porque ainda não estava de moda o cancelamento. Tínhamos
mais piada, portanto. Havia mais anedotas que beliscavam no sítio certo e
outras que eram só tontas, porque, não sei se lembram, mas o objetivo de uma
anedota, pasmem-se, é fazer rir (whaaat?).
Sim, verdade, verdadinha.
É verdade que também tem que
haver limites e respeito pelos outros, mesmo quando estamos só a tentar ser
engraçadinhos e ter alguma piada, mas hoje em dia estamos do lado oposto da
barricada.
Hoje temos que pensar 1000 vezes
no que vamos dizer, confirmar 1500 vezes quem está à nossa volta para ver quem
tem ar de ofendido, e temos só 3 ou 4 temas possíveis para “piadas” e “conversas
descontraídas”. Estamos a ficar uma autêntica seca, portanto.
Passamos de engraçadinhos
deprimidos para deprimidos ofendidos, porque o ar na sala está mais frio do que
devia estar e a pessoa que controla o termóstato não teve isso em conta, sei
lá, nunca se sabe o que está a ofender.
Um tema atual em particular que também
me arrepia o cérebro e que não tínhamos nos tempos gloriosos de que falo é a
apropriação cultural. Sim, é verdade, chegamos a esse ponto em que um branco é
posto quase na barra do tribunal por usar tranças e coisas desse género. O
engraçado é que normalmente quem grita “Apropriação
cultural! Choça com eles!”, normalmente nem sequer é da cultura alegadamente
apropriada. Normalmente, quem é da cultura em causa e vê estas situações (pelo
menos quem ainda quer ter amigos e viver saudavelmente em sociedade) fica até
orgulhoso porque significa que a sua cultura já está a chegar a outros, que
gostam dela e que a aprecia.
Enfim…desculpem lá, não quero
ofender ninguém, mas há coisas que não me fazem sentido nenhum e chegam até a
dar-me alguma urticária, inclusive. Não aprecio lá muito pessoas com mente
quadrada e que não têm sentido de humor e isto como está vai dar numa sociedade
cheia de cultura pobre e sem uma pinga de sorrisos e de gargalhadas (não vá
alguém ter os dentes amarelos ou a gargalhada demasiado sonora e ainda ofende alguém,
nunca se sabe, fiquem atentos).
Outra coisa que me deixa saudades
são as músicas. Eu sei, seu sei, depende muito dos gostos e pronto, mas
parece-me a mim que a criatividade e vontade de criar coisas novas agora
pertencem só aos artistas alternativos, todos os outros parecem demasiado
preocupados com o ambiente, é que passam a vida a reciclar músicas, parece tudo
igual. Juro que às vezes oiço cerca de três/quatro artistas supostamente
diferentes mas que confundo sempre que oiço…Parece o ataque dos clones, mas
clones que orgulhosamente se consideram únicos e originais.
Estou a ser mazinha eu sei, eu
até canto algumas músicas dos clones, e estou a dizer isto mas o meu gosto
musical passa também por muito guilty pleasure. Quem não gosta de uma
bela musiquinha da Britney Spears, da Christina Aguilera, da Shakira ou mesmo
da JLo? Não respondam, que se não gostam fico ofendida.
Mas o que mais gostava de ouvir
(que as acima indicadas eram para dançar, que eu era a rainha da pista de dança
quando estava nos píncaros dos meus 10 anos de idade, ah pois é!) e que me
faziam vibrar mesmo ouvindo só sons, porque não percebia uma palavra de inglês,
era Nirvana, Bob Marley, Limp Bizkit, Linkin Park, U2 (quando eram fixes),
Coldplay (quando eram fixes) e Blink-182, ah e Avril Lavigne (esta última está
na fronteira, vá).
Para além da liberdade de
expressão e de boa música, tenho buééésss saudades da bendita e pacífica
ausência de aparelhos eletrónicos sugadores de almas, e do tempo de qualidade que
tínhamos por não estar só andar com o polegar para cima e para baixo a esfregar
um ecrã. Mesmo que fosse não fazer nada, mas nada mesmo, de olhar literalmente
para o ar, tem mais qualidade que estar colados ao ecrã, porque nos permite
pensar e não estar num estado zombie
autêntico (contra mim falo, que já estou melhor, mas não sou hipócrita a esse
ponto e não vivo debaixo de uma pedra, também de vez em quando esfrego o
polegar no ecrã – não sejam malandros com os pensamentos, não é um trocadilho,
o verbo esfregar existe e é para ser usado).
Tenho saudades de jogar
polícia-ladrão, a apanhada, ao macaquinho do chinês, de jogar à bola, de estar
horas e horas na piscina, de andar só por aí a apanhar flores, pedras,
borboletas, folhas, de fazer desenhos no pavimento com cacos de tijolo, de
dançar até doer os pés e até ficar completamente encharcada, de falar de tudo e
de nada com os amigos horas e horas a fio, de rir até doer as bochechas e a
barriga, de roubar manga da árvore do vizinho e comer com os amigos, de ouvir a
minha mãe a chamar-me para voltar para casa só com um assobio (verdade, ganda
assobio o da minha mami, ainda hoje em dia se o oiço volto logo para casa), de
parar para ficar a olhar o bando de araras a pôr uma cor bonita no céu…
Agora não, agora o não fazer nada
parece mal, parece só perda de tempo ou que a pessoa tem problemas sérios. Se
for descanso com aquele tempinho no ecrã é bom, que está na moda, mas o estar
parado a olhar para o nada e estar quieto a pensar no nada, isso sim que é
proibido porque é perda de tempo e meio esquisito (e não se pode gostar de
esquisitos, já se sabe).
Até a comidinha era diferente,
meu Deus! Menos saudável em alguns casos? Talvez (eu tinha de lanche escolar
bolos e refrigerantes, e de pequeno almoço muitas vezes tinha um palmier
gigante cheio d’áçucar), mas tinha mais sabor, trazia mais alegria a quem comia
e com o que transpirávamos a brincar aquilo evaporava só (no meu caso a
evaporação era mais lenta, mas pronto, isso também são pormenores). A comidinha
saudável também era melhor, pelo menos na minha memória nos anos 90 e 2000 tudo
tinha mais sabor e mais sentido de ser vivido.
Confesso que hoje me desiludo
muito com o que vejo e oiço, e com o que como também (nada mais trágico do que
decidir provar algo que comias em novo, com os padrões atuais de saúde…não sabe
a nada…pasmem-se que o Chocapic está classificado com “A” naquela escala
alimentar que agora vêm nas embalagens de comida! “A” nessa escala = “Ainda
sabe a qualquer coisa, não sejam assim”), mas sei também que é normal e que
daqui a uns anos, muito provavelmente (e se tudo correr bem e não descambar
mais ainda) terei saudades também desta época.
Última nostalgia: desenhos
animados ao fim-de-semana a partir das 7 horas da manhã e até mais ou menos as 12
horas. Penso que não haverá criança dos anos 90 alguma que não se tenha
queixado de acordar cedo todos os dias da semana mas que depois nos fins-de-semana
se tenha levantado, sem despertador (!), antes das 7 da manhã para ver os
desenhos favoritos. Não, não tínhamos desenhos animados 24/24, por isso os apreciávamos
mais e havia sacrifícios a fazer. Hoje em dia não só temos desenhos todos os
dias a toda hora, como os episódios são super repetidos. Também pudera, quem tem
capacidade para criar 10 episódios novos para passar todos os dias?
E eram desdenhos tão giros (os
nossos pais não achavam, claro…não sei porquê se eram plenas obras de arte).
Eram os Looney Toons, os Flinstones, Scooby-doo, Rugrats, o Recreio, as
Tartarugas Nijas, Ren & Stimpy, a Carrinha Mágica, Power Rangers, Animaniacs,
Samurai X, Pokemon, Yu-Gi-Oh, Coragem - O Cão Cobarde…Bem, tantos, tantos
desenhos, tantas e tantas horas bem passadas.
Eram horas mágicas aquelas de
manhãs de fim-de-semana. Eu só fazia figas para que os meus pais não acordassem
tão cedo, para poder estar na paz do Senhor só a ver os meus desenhos animados
malucos e, muitos deles, sem sentido nenhum (lembro-me de um episódio em particular
de Ren & Stimpy, um dos desenhos mais sem nexo que já vi na vida, em que o
Ren teve que ir à procura de um pum que lhe fugiu pela cidade fora). Isto sim,
eram desenhos de qualidade, não o que há agora…Vergonha de desenhos 24/24. Não,
não é inveja…nada mesmo…
Ai, mas quem me dera voltar uma
semaninha a essa época em que tudo era leve, livre e solto, só para respirar um
pouco e aguentar mais nesta coisa que temos agora.
Bem, agora mais fora de
brincadeiras, isto tudo chama-se nostalgia. E a nostalgia é boa, mas pode ser
lixada e também é algo com que tive que vir aprendendo a lidar melhor, até por
ser uma imigrante mais neste Portugal que espero que não vire para outro rumo…Uma
imigrante que veio numa idade meio lixada para Portugal e teve que criar novos
hábitos e novos tudo, portanto, sim, o olhar para trás traz um monte de saudades.
Mesmo assim, eu gosto da
nostalgia, porque é meio agridoce, traz-nos o bom do passado e faz um quentinho
charmoso no coração, mas também nos traz tristeza e frustração por não poder
voltar física e efetivamente para esse tempo de que tanto temos saudades, para
dar uns últimos abraços, para ficar a olhar mais para podermos lembra-nos de
tudo ao pormenor, para poder ser o que já fomos com sonhos do que seríamos
agora mais uma vez. Mas se for com controlo, até esta última parte é boa porque
nos força a fazer isso nem que seja com a imaginação e já gera também conforto
e não nos deixa esquecer do que fizemos e com quem estivemos, para irmos
orientando quem somos para não nos perdermos.
Eu, mesmo gostando da nostalgia,
tive que a controlar, porque senão puxo os pés e a cabeça para o presente e me
foco no bom que ainda temos, então a nostalgia sofre metamorfose e
transforma-se na minha amiga depressão e a essa quero-a bem longe no seu
cantinho escuro e cheio de teias de aranha que é lá que ela está bem.
Bom, e é isto que tenho para hoje,
desesperados da minha vida.
Espero que tenham gostado e que
vos tenha ajudado a viajar a um tempo da vossa vida que tenham vos tenha feito
sentir bem e que tenham tido tempo para reclamar dos tempos presentes qual
Velho do Restelo, que toda a gente gosta de se queixar um bocadinho para
desanuviar, há até quem tenha o queixanço
como hobbie (euzinha, por exemplo).
Sem mais,
Da Vossa nostálgica
Criatura-Mais-Velha!