“Oops!...I did it again.”
– Britney Spears
Eu bem dizia que andava meio
nostálgica, e ando, já há algum tempo…A atualidade também não está a ajudar
muito a gostar mais do presente do que do passado e receia-se “um pouco” o
futuro.
E por este motivo tenho pensado
muito nos anos 90 e inícios de 2000, belos tempos, como dizem, e bem, eramos
felizes e não sabíamos.
É verdade que também havia nessa
época guerras, caos e tristeza um pouco por todo o lado.
Mas não podem negar que era tudo
mais divertido e melhor (pelo menos para quem passou a sua
infância/adolescência nessa altura).
Primeiro e principal, podíamos
dizer o que nos apetecesse porque ainda não estava de moda o cancelamento. Tínhamos
mais piada, portanto. Havia mais anedotas que beliscavam no sítio certo e
outras que eram só tontas, porque, não sei se lembram, mas o objetivo de uma
anedota, pasmem-se, é fazer rir (whaaat?).
Sim, verdade, verdadinha.
É verdade que também tem que
haver limites e respeito pelos outros, mesmo quando estamos só a tentar ser
engraçadinhos e ter alguma piada, mas hoje em dia estamos do lado oposto da
barricada.
Hoje temos que pensar 1000 vezes
no que vamos dizer, confirmar 1500 vezes quem está à nossa volta para ver quem
tem ar de ofendido, e temos só 3 ou 4 temas possíveis para “piadas” e “conversas
descontraídas”. Estamos a ficar uma autêntica seca, portanto.
Passamos de engraçadinhos
deprimidos para deprimidos ofendidos, porque o ar na sala está mais frio do que
devia estar e a pessoa que controla o termóstato não teve isso em conta, sei
lá, nunca se sabe o que está a ofender.
Um tema atual em particular que também
me arrepia o cérebro e que não tínhamos nos tempos gloriosos de que falo é a
apropriação cultural. Sim, é verdade, chegamos a esse ponto em que um branco é
posto quase na barra do tribunal por usar tranças e coisas desse género. O
engraçado é que normalmente quem grita “Apropriação
cultural! Choça com eles!”, normalmente nem sequer é da cultura alegadamente
apropriada. Normalmente, quem é da cultura em causa e vê estas situações (pelo
menos quem ainda quer ter amigos e viver saudavelmente em sociedade) fica até
orgulhoso porque significa que a sua cultura já está a chegar a outros, que
gostam dela e que a aprecia.
Enfim…desculpem lá, não quero
ofender ninguém, mas há coisas que não me fazem sentido nenhum e chegam até a
dar-me alguma urticária, inclusive. Não aprecio lá muito pessoas com mente
quadrada e que não têm sentido de humor e isto como está vai dar numa sociedade
cheia de cultura pobre e sem uma pinga de sorrisos e de gargalhadas (não vá
alguém ter os dentes amarelos ou a gargalhada demasiado sonora e ainda ofende alguém,
nunca se sabe, fiquem atentos).
Outra coisa que me deixa saudades
são as músicas. Eu sei, seu sei, depende muito dos gostos e pronto, mas
parece-me a mim que a criatividade e vontade de criar coisas novas agora
pertencem só aos artistas alternativos, todos os outros parecem demasiado
preocupados com o ambiente, é que passam a vida a reciclar músicas, parece tudo
igual. Juro que às vezes oiço cerca de três/quatro artistas supostamente
diferentes mas que confundo sempre que oiço…Parece o ataque dos clones, mas
clones que orgulhosamente se consideram únicos e originais.
Estou a ser mazinha eu sei, eu
até canto algumas músicas dos clones, e estou a dizer isto mas o meu gosto
musical passa também por muito guilty pleasure. Quem não gosta de uma
bela musiquinha da Britney Spears, da Christina Aguilera, da Shakira ou mesmo
da JLo? Não respondam, que se não gostam fico ofendida.
Mas o que mais gostava de ouvir
(que as acima indicadas eram para dançar, que eu era a rainha da pista de dança
quando estava nos píncaros dos meus 10 anos de idade, ah pois é!) e que me
faziam vibrar mesmo ouvindo só sons, porque não percebia uma palavra de inglês,
era Nirvana, Bob Marley, Limp Bizkit, Linkin Park, U2 (quando eram fixes),
Coldplay (quando eram fixes) e Blink-182, ah e Avril Lavigne (esta última está
na fronteira, vá).
Para além da liberdade de
expressão e de boa música, tenho buééésss saudades da bendita e pacífica
ausência de aparelhos eletrónicos sugadores de almas, e do tempo de qualidade que
tínhamos por não estar só andar com o polegar para cima e para baixo a esfregar
um ecrã. Mesmo que fosse não fazer nada, mas nada mesmo, de olhar literalmente
para o ar, tem mais qualidade que estar colados ao ecrã, porque nos permite
pensar e não estar num estado zombie
autêntico (contra mim falo, que já estou melhor, mas não sou hipócrita a esse
ponto e não vivo debaixo de uma pedra, também de vez em quando esfrego o
polegar no ecrã – não sejam malandros com os pensamentos, não é um trocadilho,
o verbo esfregar existe e é para ser usado).
Tenho saudades de jogar
polícia-ladrão, a apanhada, ao macaquinho do chinês, de jogar à bola, de estar
horas e horas na piscina, de andar só por aí a apanhar flores, pedras,
borboletas, folhas, de fazer desenhos no pavimento com cacos de tijolo, de
dançar até doer os pés e até ficar completamente encharcada, de falar de tudo e
de nada com os amigos horas e horas a fio, de rir até doer as bochechas e a
barriga, de roubar manga da árvore do vizinho e comer com os amigos, de ouvir a
minha mãe a chamar-me para voltar para casa só com um assobio (verdade, ganda
assobio o da minha mami, ainda hoje em dia se o oiço volto logo para casa), de
parar para ficar a olhar o bando de araras a pôr uma cor bonita no céu…
Agora não, agora o não fazer nada
parece mal, parece só perda de tempo ou que a pessoa tem problemas sérios. Se
for descanso com aquele tempinho no ecrã é bom, que está na moda, mas o estar
parado a olhar para o nada e estar quieto a pensar no nada, isso sim que é
proibido porque é perda de tempo e meio esquisito (e não se pode gostar de
esquisitos, já se sabe).
Até a comidinha era diferente,
meu Deus! Menos saudável em alguns casos? Talvez (eu tinha de lanche escolar
bolos e refrigerantes, e de pequeno almoço muitas vezes tinha um palmier
gigante cheio d’áçucar), mas tinha mais sabor, trazia mais alegria a quem comia
e com o que transpirávamos a brincar aquilo evaporava só (no meu caso a
evaporação era mais lenta, mas pronto, isso também são pormenores). A comidinha
saudável também era melhor, pelo menos na minha memória nos anos 90 e 2000 tudo
tinha mais sabor e mais sentido de ser vivido.
Confesso que hoje me desiludo
muito com o que vejo e oiço, e com o que como também (nada mais trágico do que
decidir provar algo que comias em novo, com os padrões atuais de saúde…não sabe
a nada…pasmem-se que o Chocapic está classificado com “A” naquela escala
alimentar que agora vêm nas embalagens de comida! “A” nessa escala = “Ainda
sabe a qualquer coisa, não sejam assim”), mas sei também que é normal e que
daqui a uns anos, muito provavelmente (e se tudo correr bem e não descambar
mais ainda) terei saudades também desta época.
Última nostalgia: desenhos
animados ao fim-de-semana a partir das 7 horas da manhã e até mais ou menos as 12
horas. Penso que não haverá criança dos anos 90 alguma que não se tenha
queixado de acordar cedo todos os dias da semana mas que depois nos fins-de-semana
se tenha levantado, sem despertador (!), antes das 7 da manhã para ver os
desenhos favoritos. Não, não tínhamos desenhos animados 24/24, por isso os apreciávamos
mais e havia sacrifícios a fazer. Hoje em dia não só temos desenhos todos os
dias a toda hora, como os episódios são super repetidos. Também pudera, quem tem
capacidade para criar 10 episódios novos para passar todos os dias?
E eram desdenhos tão giros (os
nossos pais não achavam, claro…não sei porquê se eram plenas obras de arte).
Eram os Looney Toons, os Flinstones, Scooby-doo, Rugrats, o Recreio, as
Tartarugas Nijas, Ren & Stimpy, a Carrinha Mágica, Power Rangers, Animaniacs,
Samurai X, Pokemon, Yu-Gi-Oh, Coragem - O Cão Cobarde…Bem, tantos, tantos
desenhos, tantas e tantas horas bem passadas.
Eram horas mágicas aquelas de
manhãs de fim-de-semana. Eu só fazia figas para que os meus pais não acordassem
tão cedo, para poder estar na paz do Senhor só a ver os meus desenhos animados
malucos e, muitos deles, sem sentido nenhum (lembro-me de um episódio em particular
de Ren & Stimpy, um dos desenhos mais sem nexo que já vi na vida, em que o
Ren teve que ir à procura de um pum que lhe fugiu pela cidade fora). Isto sim,
eram desenhos de qualidade, não o que há agora…Vergonha de desenhos 24/24. Não,
não é inveja…nada mesmo…
Ai, mas quem me dera voltar uma
semaninha a essa época em que tudo era leve, livre e solto, só para respirar um
pouco e aguentar mais nesta coisa que temos agora.
Bem, agora mais fora de
brincadeiras, isto tudo chama-se nostalgia. E a nostalgia é boa, mas pode ser
lixada e também é algo com que tive que vir aprendendo a lidar melhor, até por
ser uma imigrante mais neste Portugal que espero que não vire para outro rumo…Uma
imigrante que veio numa idade meio lixada para Portugal e teve que criar novos
hábitos e novos tudo, portanto, sim, o olhar para trás traz um monte de saudades.
Mesmo assim, eu gosto da
nostalgia, porque é meio agridoce, traz-nos o bom do passado e faz um quentinho
charmoso no coração, mas também nos traz tristeza e frustração por não poder
voltar física e efetivamente para esse tempo de que tanto temos saudades, para
dar uns últimos abraços, para ficar a olhar mais para podermos lembra-nos de
tudo ao pormenor, para poder ser o que já fomos com sonhos do que seríamos
agora mais uma vez. Mas se for com controlo, até esta última parte é boa porque
nos força a fazer isso nem que seja com a imaginação e já gera também conforto
e não nos deixa esquecer do que fizemos e com quem estivemos, para irmos
orientando quem somos para não nos perdermos.
Eu, mesmo gostando da nostalgia,
tive que a controlar, porque senão puxo os pés e a cabeça para o presente e me
foco no bom que ainda temos, então a nostalgia sofre metamorfose e
transforma-se na minha amiga depressão e a essa quero-a bem longe no seu
cantinho escuro e cheio de teias de aranha que é lá que ela está bem.
Bom, e é isto que tenho para hoje,
desesperados da minha vida.
Espero que tenham gostado e que
vos tenha ajudado a viajar a um tempo da vossa vida que tenham vos tenha feito
sentir bem e que tenham tido tempo para reclamar dos tempos presentes qual
Velho do Restelo, que toda a gente gosta de se queixar um bocadinho para
desanuviar, há até quem tenha o queixanço
como hobbie (euzinha, por exemplo).
Sem mais,
Da Vossa nostálgica
Criatura-Mais-Velha!
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