domingo, 1 de junho de 2025

Tentativa #17 – Meus queridos anos 90

Oops!...I did it again.”

– Britney Spears

 

Eu bem dizia que andava meio nostálgica, e ando, já há algum tempo…A atualidade também não está a ajudar muito a gostar mais do presente do que do passado e receia-se “um pouco” o futuro.

E por este motivo tenho pensado muito nos anos 90 e inícios de 2000, belos tempos, como dizem, e bem, eramos felizes e não sabíamos.

É verdade que também havia nessa época guerras, caos e tristeza um pouco por todo o lado.

Mas não podem negar que era tudo mais divertido e melhor (pelo menos para quem passou a sua infância/adolescência nessa altura).

Primeiro e principal, podíamos dizer o que nos apetecesse porque ainda não estava de moda o cancelamento. Tínhamos mais piada, portanto. Havia mais anedotas que beliscavam no sítio certo e outras que eram só tontas, porque, não sei se lembram, mas o objetivo de uma anedota, pasmem-se, é fazer rir (whaaat?).

Sim, verdade, verdadinha.

É verdade que também tem que haver limites e respeito pelos outros, mesmo quando estamos só a tentar ser engraçadinhos e ter alguma piada, mas hoje em dia estamos do lado oposto da barricada.

Hoje temos que pensar 1000 vezes no que vamos dizer, confirmar 1500 vezes quem está à nossa volta para ver quem tem ar de ofendido, e temos só 3 ou 4 temas possíveis para “piadas” e “conversas descontraídas”. Estamos a ficar uma autêntica seca, portanto.

Passamos de engraçadinhos deprimidos para deprimidos ofendidos, porque o ar na sala está mais frio do que devia estar e a pessoa que controla o termóstato não teve isso em conta, sei lá, nunca se sabe o que está a ofender.

Um tema atual em particular que também me arrepia o cérebro e que não tínhamos nos tempos gloriosos de que falo é a apropriação cultural. Sim, é verdade, chegamos a esse ponto em que um branco é posto quase na barra do tribunal por usar tranças e coisas desse género. O engraçado é que normalmente quem grita “Apropriação cultural! Choça com eles!”, normalmente nem sequer é da cultura alegadamente apropriada. Normalmente, quem é da cultura em causa e vê estas situações (pelo menos quem ainda quer ter amigos e viver saudavelmente em sociedade) fica até orgulhoso porque significa que a sua cultura já está a chegar a outros, que gostam dela e que a aprecia.

Enfim…desculpem lá, não quero ofender ninguém, mas há coisas que não me fazem sentido nenhum e chegam até a dar-me alguma urticária, inclusive. Não aprecio lá muito pessoas com mente quadrada e que não têm sentido de humor e isto como está vai dar numa sociedade cheia de cultura pobre e sem uma pinga de sorrisos e de gargalhadas (não vá alguém ter os dentes amarelos ou a gargalhada demasiado sonora e ainda ofende alguém, nunca se sabe, fiquem atentos).

Outra coisa que me deixa saudades são as músicas. Eu sei, seu sei, depende muito dos gostos e pronto, mas parece-me a mim que a criatividade e vontade de criar coisas novas agora pertencem só aos artistas alternativos, todos os outros parecem demasiado preocupados com o ambiente, é que passam a vida a reciclar músicas, parece tudo igual. Juro que às vezes oiço cerca de três/quatro artistas supostamente diferentes mas que confundo sempre que oiço…Parece o ataque dos clones, mas clones que orgulhosamente se consideram únicos e originais.

Estou a ser mazinha eu sei, eu até canto algumas músicas dos clones, e estou a dizer isto mas o meu gosto musical passa também por muito guilty pleasure. Quem não gosta de uma bela musiquinha da Britney Spears, da Christina Aguilera, da Shakira ou mesmo da JLo? Não respondam, que se não gostam fico ofendida.

Mas o que mais gostava de ouvir (que as acima indicadas eram para dançar, que eu era a rainha da pista de dança quando estava nos píncaros dos meus 10 anos de idade, ah pois é!) e que me faziam vibrar mesmo ouvindo só sons, porque não percebia uma palavra de inglês, era Nirvana, Bob Marley, Limp Bizkit, Linkin Park, U2 (quando eram fixes), Coldplay (quando eram fixes) e Blink-182, ah e Avril Lavigne (esta última está na fronteira, vá).

Para além da liberdade de expressão e de boa música, tenho buééésss saudades da bendita e pacífica ausência de aparelhos eletrónicos sugadores de almas, e do tempo de qualidade que tínhamos por não estar só andar com o polegar para cima e para baixo a esfregar um ecrã. Mesmo que fosse não fazer nada, mas nada mesmo, de olhar literalmente para o ar, tem mais qualidade que estar colados ao ecrã, porque nos permite pensar e não estar num estado zombie autêntico (contra mim falo, que já estou melhor, mas não sou hipócrita a esse ponto e não vivo debaixo de uma pedra, também de vez em quando esfrego o polegar no ecrã – não sejam malandros com os pensamentos, não é um trocadilho, o verbo esfregar existe e é para ser usado).

Tenho saudades de jogar polícia-ladrão, a apanhada, ao macaquinho do chinês, de jogar à bola, de estar horas e horas na piscina, de andar só por aí a apanhar flores, pedras, borboletas, folhas, de fazer desenhos no pavimento com cacos de tijolo, de dançar até doer os pés e até ficar completamente encharcada, de falar de tudo e de nada com os amigos horas e horas a fio, de rir até doer as bochechas e a barriga, de roubar manga da árvore do vizinho e comer com os amigos, de ouvir a minha mãe a chamar-me para voltar para casa só com um assobio (verdade, ganda assobio o da minha mami, ainda hoje em dia se o oiço volto logo para casa), de parar para ficar a olhar o bando de araras a pôr uma cor bonita no céu…

Agora não, agora o não fazer nada parece mal, parece só perda de tempo ou que a pessoa tem problemas sérios. Se for descanso com aquele tempinho no ecrã é bom, que está na moda, mas o estar parado a olhar para o nada e estar quieto a pensar no nada, isso sim que é proibido porque é perda de tempo e meio esquisito (e não se pode gostar de esquisitos, já se sabe).

Até a comidinha era diferente, meu Deus! Menos saudável em alguns casos? Talvez (eu tinha de lanche escolar bolos e refrigerantes, e de pequeno almoço muitas vezes tinha um palmier gigante cheio d’áçucar), mas tinha mais sabor, trazia mais alegria a quem comia e com o que transpirávamos a brincar aquilo evaporava só (no meu caso a evaporação era mais lenta, mas pronto, isso também são pormenores). A comidinha saudável também era melhor, pelo menos na minha memória nos anos 90 e 2000 tudo tinha mais sabor e mais sentido de ser vivido.

Confesso que hoje me desiludo muito com o que vejo e oiço, e com o que como também (nada mais trágico do que decidir provar algo que comias em novo, com os padrões atuais de saúde…não sabe a nada…pasmem-se que o Chocapic está classificado com “A” naquela escala alimentar que agora vêm nas embalagens de comida! “A” nessa escala = “Ainda sabe a qualquer coisa, não sejam assim”), mas sei também que é normal e que daqui a uns anos, muito provavelmente (e se tudo correr bem e não descambar mais ainda) terei saudades também desta época.

Última nostalgia: desenhos animados ao fim-de-semana a partir das 7 horas da manhã e até mais ou menos as 12 horas. Penso que não haverá criança dos anos 90 alguma que não se tenha queixado de acordar cedo todos os dias da semana mas que depois nos fins-de-semana se tenha levantado, sem despertador (!), antes das 7 da manhã para ver os desenhos favoritos. Não, não tínhamos desenhos animados 24/24, por isso os apreciávamos mais e havia sacrifícios a fazer. Hoje em dia não só temos desenhos todos os dias a toda hora, como os episódios são super repetidos. Também pudera, quem tem capacidade para criar 10 episódios novos para passar todos os dias?

E eram desdenhos tão giros (os nossos pais não achavam, claro…não sei porquê se eram plenas obras de arte). Eram os Looney Toons, os Flinstones, Scooby-doo, Rugrats, o Recreio, as Tartarugas Nijas, Ren & Stimpy, a Carrinha Mágica, Power Rangers, Animaniacs, Samurai X, Pokemon, Yu-Gi-Oh, Coragem - O Cão Cobarde…Bem, tantos, tantos desenhos, tantas e tantas horas bem passadas.

Eram horas mágicas aquelas de manhãs de fim-de-semana. Eu só fazia figas para que os meus pais não acordassem tão cedo, para poder estar na paz do Senhor só a ver os meus desenhos animados malucos e, muitos deles, sem sentido nenhum (lembro-me de um episódio em particular de Ren & Stimpy, um dos desenhos mais sem nexo que já vi na vida, em que o Ren teve que ir à procura de um pum que lhe fugiu pela cidade fora). Isto sim, eram desenhos de qualidade, não o que há agora…Vergonha de desenhos 24/24. Não, não é inveja…nada mesmo…

Ai, mas quem me dera voltar uma semaninha a essa época em que tudo era leve, livre e solto, só para respirar um pouco e aguentar mais nesta coisa que temos agora.

Bem, agora mais fora de brincadeiras, isto tudo chama-se nostalgia. E a nostalgia é boa, mas pode ser lixada e também é algo com que tive que vir aprendendo a lidar melhor, até por ser uma imigrante mais neste Portugal que espero que não vire para outro rumo…Uma imigrante que veio numa idade meio lixada para Portugal e teve que criar novos hábitos e novos tudo, portanto, sim, o olhar para trás traz um monte de saudades.

Mesmo assim, eu gosto da nostalgia, porque é meio agridoce, traz-nos o bom do passado e faz um quentinho charmoso no coração, mas também nos traz tristeza e frustração por não poder voltar física e efetivamente para esse tempo de que tanto temos saudades, para dar uns últimos abraços, para ficar a olhar mais para podermos lembra-nos de tudo ao pormenor, para poder ser o que já fomos com sonhos do que seríamos agora mais uma vez. Mas se for com controlo, até esta última parte é boa porque nos força a fazer isso nem que seja com a imaginação e já gera também conforto e não nos deixa esquecer do que fizemos e com quem estivemos, para irmos orientando quem somos para não nos perdermos.

Eu, mesmo gostando da nostalgia, tive que a controlar, porque senão puxo os pés e a cabeça para o presente e me foco no bom que ainda temos, então a nostalgia sofre metamorfose e transforma-se na minha amiga depressão e a essa quero-a bem longe no seu cantinho escuro e cheio de teias de aranha que é lá que ela está bem.

Bom, e é isto que tenho para hoje, desesperados da minha vida.

Espero que tenham gostado e que vos tenha ajudado a viajar a um tempo da vossa vida que tenham vos tenha feito sentir bem e que tenham tido tempo para reclamar dos tempos presentes qual Velho do Restelo, que toda a gente gosta de se queixar um bocadinho para desanuviar, há até quem tenha o queixanço como hobbie (euzinha, por exemplo).

Sem mais,

Da Vossa nostálgica Criatura-Mais-Velha!

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