domingo, 23 de fevereiro de 2025

Tentativa #3 – Ainda o Medo.

Devem ser evitados os tristes

de que tudo se queixam.”

Séneca

 

Quando era criança, a minha emoção básica mais proeminente era a alegria. Os meus pais contam que iam caminho fora com pessoas a meterem-se comigo porque eu não parava de sorrir para os estranhos com que nos cruzávamos e eles devolviam prontamente o sorriso. E, pronto, os meus pais ficavam todos babados e eu continuava por essa estrada fora feliz da vida.

Era inocência pura de uma criança feliz e bem alimentada a funcionar. Era a ausência de preocupações, todo um mundo à frente, os sonhos que de certeza que se iam realizar (sim, como veem, realizou-se, sou a dançarina famosa que todos conhecem e que aparece em todos os videoclips da MTV – se é que ainda passam videoclips na MTV -, só que na minha sala de estar e sem que ninguém esteja a ver de preferência)…

Agora, com 35 anos de idosidade, estão de mãos dadas o medo e a tristeza (só um aparte, para quem lê estas linhas e se preocupa comigo: não se preocupem, o que escrevo aqui é verdade, mas está controlado e em evolução positiva, é só um desabafo e uma catarse para aliviar as angústias interiores deste ser luminoso que sou eu).

Bem, e o que se aprende e o que se faz com esta parelha fantástica de emoções que me acompanham diariamente? Perguntam vocês.

Se deixar a parelha andar livremente a saltitar pelo meu crânio, normalmente não aprendo praticamente nada de positivo, porque entre as duas o que me fazem é congelar-me no presente e prender-me no passado em simultâneo. Sim, têm esse poder paradoxal e fantástico. Portanto, pirosamente falando, não me deixam viver o presente, deixam-me com nostalgia pelo passado e a tremer de medo do futuro.

E mesmo sabendo disto, são com estas duas lindas amigas com quem mais convivo, vindo à mistura ainda a alegria mas agora em formato de sentido de humor estragado, mas sim, as minhas duas lindinhas favoritas são o medo e a tristeza.

Agora que já percebi isso, estou a tentar treiná-las e treinar-me a mim para as deixar ir descansar um pouco (que por mim podem ir de reforma antecipada sem penalizações, e vão fazendo só um biscate ou outro de vez em quando, só quando é mesmo preciso).

Não está fácil, elas estão mesmo apegadas a mim porque claramente sou uma pessoa super irresistível, mas se algum dia elas lerem estas linhas tenho umas coisinhas que gostava de lhes dizer para que elas interiorizassem de vez. E essas coisinhas são as seguintes:

1.º - Obrigada pela visita mas já chega, podem ir à vossa vida.

2.º - A sério, estou a ficar sem tempo para vocês, porque preciso de fazer mais coisinhas boas e diferentes desta vida e vocês são um grande empecilho e bloqueiam a motivação, que é tão linda.

3.º - Juro que vos ligo nos anos ou assim (marcamos um café e tudo…), mas só assim um dia destes…

4.º - Por favor não visitem a minha filha tão frequentemente, para que ela possa explorar todo o potencial que está naquela pessoinha linda que está já quase do meu tamanho (uns tremendos 1,57m!) e para que possa desde cedo descobrir o que a faz feliz, que o pode fazer sem receio nenhum e com todo o apoio do mundo.

O resto que gostava de transmitir a estas minhas duas amigas desta vida não vou escrever aqui, pelo menos para já, porque o blog ainda agora começou e não quero que me bloqueiem ou me cancelem, ou lá como se diz agora…

Mas isto tudo para dizer o quê? A) Que vou continuar a minha luta e a perseguir o conhecimento em relação a estes temas para poder ajudar-me a mim e aos que me rodeiam e queiram também ir neste caminho comigo; B) Podem dar dicas, que se agradece; C) Quando me livrar destas duas amigas (ou pelo menos fazer delas só colegas e não amigas), vou abrir um espumantezinho e venho aqui contar-vos.

E, pronto, cá está. Fica aqui mais uma Tentativa de largar o desespero por esta World Wide Web fora a ver no que dá e logo volto com mais dilemas existenciais desta minha existência existencial.

Da vossa Criatura-Mais-Velha.