segunda-feira, 21 de abril de 2025

Tentativa # 11 – O Potencial Impostor

 O combate que travam em cada indivíduo o fanático e o impostor faz com que não saibamos nunca a quem nos dirigir.”

― Emil Mihai Cioran

 

Olá, meus desesperados!

Eu sei, falhei o nosso encontro de domingo, mas juro que foi por bons motivos.

É que, para além de ser Páscoa e de ter aproveitado para passear e descansar com os meus fofos, estivemos todos a tratar de uma nova fofa que apareceu nas nossas vidas. Encontramos uma canídea abandonada, que é só a canídea mais fofa de sempre e que tem trazido muita calmaria e felicidade a nossa casa. E pronto, como sou uma pessoa que se distrai com facilidade e que acha sempre que as coisas demoram menos tempo a fazer-se do que realmente demoram, cá estamos novamente a conversar a uma segunda-feira…

Mas não vos abandono nesta cruzada que é a vida louca que levamos.

Até porque não sabem, mas ajudam-me vocês mais a mim do que eu a vocês. Não sei quem lê e quem não lê, mas só de deixar aqui os meus desabafos na esperança de ajudar alguém e que esse alguém saiba que não está sozinho neste mundo de loucos desesperados, já me deixa mais realizada e preenchida e serve mesmo como terapia low cost, mas no bom sentido da coisa. Portanto, a quem lê os meus desesperos, muito obrigada, a quem não lê, não sabem o que perdem, que é com cada pérola que para aqui deixo, que upa, upa, é melhor começarem a ler, a sério! 

Bom, mas vamos lá ao que me trouxe aqui. Na última tentativa toquei num tema pelo qual me tenho interessado porque acho mesmo que sofro dessa síndrome e pode explicar a minha vida praticamente toda.

É a bela da Síndrome do Impostor.

Explicando minimamente o que é (até porque ainda me falta muito caminho para desbravar para perceber melhor como funciona esta fofa), diz a CUF que a Síndrome do Impostor é um padrão de pensamento e “o sentimento de que não somos competentes em determinadas áreas ou situações (seja a nível pessoal ou profissional), enquanto as outras pessoas, pelo contrário, têm tudo sob controlo e sabem exatamente o que devem fazer. Quem lida com a síndrome do impostor não acredita no seu valor, mesmo quando confrontado com provas que demonstram que é capaz de executar as diferentes tarefas com sucesso.”, considerando que o que conseguem foi sorte ou que qualquer outra pessoa conseguiria fazer igual ou melhor.

Acrescenta a CUF o seguinte:

“Quem tem síndrome do impostor pode...

Acreditar que "enganou" outras pessoas levando-as a pensar que tem mais competências do que aquelas que na realidade tem;

Achar que o seu sucesso se deve a mera sorte, charme ou outras razões superficiais;

Pensar que trabalhar de forma excessiva é a única forma de atingir as expectativas;

Ter medo de ser considerado um falhado;

Sentir que não merece atenção ou afeto;

Desvalorizar as suas conquistas;

Apesar da vontade de prosperar, o medo de ser "descoberto" (por ter muita responsabilidade, cometer um erro, receio da incerteza) pode ser paralisante.”

Descobri isso e agora, e que faço check em todos os pontos anteriores, e, como sempre, só falta, assim como quem não quer a coisa, resolver o pequeno probleminha que se instalou neste cérebro fantástico e iluminado que os meus paizinhos me deram. O que por sua vez significa muita leitura, dinheiro para livros da especialidade e muitos momentos de sossego e de me aturar a mim própria para tentar perceber o que vai aqui por dentro.

Então. Tudo começa com os elogios. Não sei lidar com esses seres, que o normal das pessoas faz por merecer e ouvir. Qualquer tipo de elogio na minha cabeça serve para uma de duas coisas: para desconfiar de quem me dá o elogio ou para desistir do que estou a fazer.

Não consigo aceitar bem elogios porque não acredito neles praticamente nunca quando me são dirigidos…

Esta questãozinha com que lido, que parece tão inofensiva tem feito com que nunca tenha conseguido explorar verdadeiramente nada do que inicialmente pareço gostar e que até pareço ter jeito, nem a acreditar na minha pessoa realmente para seja o que for.

Mais. Esta questãozinha fez com que ganhasse aversão a uma palavra em particular: POTENCIAL.

É uma palavra que me acompanha praticamente desde que me lembro e que odeio de coração.

Isto porque desde tenra idade que me lembro de começar projetos, atividades e similares, de que até gosto e sinto que consigo fazer mais ou menos bem, mas depois basta vir uma alminha dizer: “Elah, tens mesmo potencial para isso, até que fazes bem, devias explorar esse teu potencial! Que lindinha e que lindinho potencial” (é ipsis verbis isto, é mesmo assim que me dizem, é, é), que assim que ouço estas palavras, começa tudo…

Começam as dúvidas. Duvido se me estão a elogiar por pena ou só para agradar. Se estou efetivamente a fazer bem. Se afinal é aquilo que quero fazer. Se serei capaz de explorar o tal potencial ou se foi só sorte em fazer bem quando a pessoa que elogiou viu naquele único momento em que estava a fazer bem.

Começa também a procrastinação incompreensível. Sei que gosto do que estou a fazer, mas quando oiço “Ai mas que potencial lindo que tens para isso”, parece que congelo, que não quero fazer mais, que é melhor deixar o projeto a meio. Afinal, se não o terminar fica o potencial por explorar mas não fica o falhanço, não fica a vergonha de afinal não conseguir fazer mais e melhor e fico o pensamento de “Ah, ela se quisesse conseguia porque tem potencial…tem é preguiça” (é mais fácil ser “preguiçosa” do que falhada).

Começam também as frustrações, as reclamações e críticas internas. Começo a pensar que não sou capaz de continuar porque não estou a fazer as coisas bem, porque como tenho “potencial” tem que sair perfeito e quando não sai perfeito é porque é melhor desistir…afinal não era potencial coisa nenhuma, e, mais uma vez, foi questão de sorte.

Portanto, e em suma, não acredito em mim e nas minhas competências mesmo que tenha provas mais do que provadas à minha frente. Isso em termos profissionais e pessoais, o que é ótimo, como muitos de vocês devem saber.

No trabalho, acho sempre que não estou ao nível que já deveria estar. Que deveria ser mais rápida, mais competente, mais desembaraçada, mais tudo e que não o sou, que sou tudo o menos…Ressoam na minha cabeça as palavras sábias de uma querida Sra. Dra. Professora da época da faculdade que me dizia “A Criatura-Mais-Velha é uma no cravo e outra na ferradura” ou, outro clássico “A Criatura-Mais-Velha vai ser uma profissional medíocre”. Assim, penso sempre que todos são melhores que eu, porque mesmo os que falham podem ter falhado naquele momento porque estavam num mau dia, ou porque tiveram azar.

No foro pessoal, mais precisamente, nas relações, acho sempre que estou a incomodar, que as pessoas não têm que me aturar e que conseguiam melhor companhia do que a minha, que só me aturam e dizem que gostam de mim para não se sentirem mal por me deixar de parte (esta partezinha é difícil de combater, mas pronto, esforço-me para ignorar os pensamentos de impostor neste campo…).

Como mãe, a sensação é que não faço as coisas como devia fazer, que devia estar sempre mais calma e serena e falar com as crianças sempre tendo em mente que são elas as crianças e que eu sou a adulta, que deveria ler mais sobre o assunto, que deveria estar mais tempo com eles, que não sou a mãe que eles mereciam ter…Enfim…Só pensamentos bons, portanto.

Nos hobbies, também é a mesma história. E algo que me deveria dar prazer e que deveria ansiar por fazer, faz-me antes sentir que, por não ser boa em nada, estou a perder tempo e que deveria estar a fazer algo mais útil.

Sim, é isso, um tormento…Um tormento que me fazem desistir das coisas antes que me venham dizer que afinal sou má no que faço, que devia desistir e seguir outra vida…Um tormento que me dá muito trabalho mental porque para sobreviver tenho que contrariar ou pelo menos ignorar muitas vezes (praticamente, de forma diária este pensamento).

Mas pronto, vou continuar a tentar perceber mais sobre este assunto e o que posso fazer para me livrar de mais esta amiguinha malandra, a ver se encontro paz e sossego e se começo a olhar para mim como os outros supostamente me veem. Acho que pelo menos já é um passo ter identificado esta questão e agora é começar a lidar melhor com isto.

A quem tenha dicas para começar a dar a volta a isto agradeço, por exemplo, com indicação de livros ou mesmo de práticas que possa fazer para ver se pelo menos fico com menos esta amiga de coração.

Da vossa Potencial Criatura-Mais-Velha! (ahah sorry, não resisti)

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